Opinião
Que futuro para a floresta portuguesa?
As alterações climáticas aumentam o risco de incêndios e comprometem a capacidade de sequestro de carbono da floresta
No passado dia 3 de setembro, realizou-se um protesto em várias localidades contra os incêndios florestais e o papel da indústria da celulose na monocultura do eucalipto. O “Protesto pela Floresta do Futuro”, defende a adoção de uma floresta diversificada, com espécies adequadas a cada território e que permitam fazer frente às alterações climáticas.
De acordo com o Centro Comum de Investigação (JRC) da Comissão Europeia, os efeitos das alterações climáticas são cada vez mais evidentes, verificando-se uma tendência de aumento dos riscos de incêndio, épocas de incêndio mais longas e incêndios que se propagam rapidamente e relativamente aos quais os meios tradicionais de combate a incêndios pouco podem fazer.
As áreas florestais assumem uma importância crescente na conservação dos solos e do ciclo hidrológico, no ordenamento do território, na proteção do ambiente, contribuindo para o sequestro de carbono e redução do efeito de estufa, pelo que a intervenção humana sobre as árvores e a floresta, nomeadamente a sua exploração, deverá ser feita de modo sustentável, sem colocar em causa as gerações futuras e o ambiente.
Mas afinal que floresta é que temos em Portugal Continental? Segundo o Inventário Florestal Nacional, 36% da área do território é ocupada por áreas florestais, tendo ocorrido desde 1995 um decréscimo das áreas de pinheiro-bravo, de sobreiro e azinheira, e o aumento progressivo da área de eucalipto, que é neste momento a espécie mais representativa da floresta portuguesa.
O pinheiro-bravo chegou a ocupar 40% da floresta portuguesa e são vários os fatores que contribuíram para o declínio da sua área, sendo de destacar a vaga de incêndios que tem assolado o País, a falta de investimento em reflorestação, a substituição por outras espécies e as pragas e doenças que têm afetado áreas crescentes de pinhal (como é o caso da doença da murchidão do pinheiro).
Em termos de plantações, não será surpresa que mais de 56% da área aprovada para (re)arborização no período 2013-2022 seja de eucalipto, seguida do pinheiro-bravo e do sobreiro, ambos com 11%.
E quem são os proprietários da floresta em Portugal? São na sua grande maioria pequenos proprietários, correspondendo 84,2% a propriedades privadas, 13,8% a terrenos comunitários e 2% a terrenos do Estado. Sim, o Estado apenas possui 2% da floresta.
Daqui se depreende que a floresta que temos, é de cariz maioritariamente privada. É uma floresta que se encontra desordenada, sem gestão florestal adequada e que apresenta cronicamente baixas produtividades. Geralmente, os incêndios acontecem onde existem matos acumulados e em floresta desordenada, argumentos muitas vezes apontados para o uso dessas áreas pela indústria de celulose, através de uma gestão florestal profissional.
Mais do que uma escolha de espécies florestais, o futuro da floresta passa sobretudo pela escolha de modelos de gestão florestal adequados às funções do território, em que podemos ter florestas de produção, de conservação, de proteção, de recreação e lazer, e em que a responsabilidade dessa escolha passa pela opção consciente do proprietário florestal, respeitando os Planos Regionais de Ordenamento Florestal e demais legislação em vigor.
Com as alterações climáticas, faz todo o sentido optar por outras espécies florestais ou modelos de produção, que para além da biomassa, nos permitem obter recursos florestais como a pinha, a resina e a cortiça, bem como contribuir para o sequestro do carbono e o fomento da biodiversidade do território.
A escolha depende de si, senhor proprietário florestal!