Opinião
Quem pode e quem não pode
O que está em causa é mesmo o efectivo acesso aos serviços públicos que se divide cada vez mais entre quem pode e quem não pode
Ficámos a conhecer por estes dias uma sondagem que revela uma significativa insatisfação dos portugueses com as políticas públicas. Dos impostos, aos serviços públicos, as pessoas estão profundamente insatisfeitas com a forma como têm sido governados.
Os números da abstenção nos sucessivos actos eleitorais ajudam a ilustrar este descontentamento que afasta quem elege dos seus eleitos. E deveriam merecer reflexão.
Olhando para os quase 70% que se mostram insatisfeitos com o estado da educação ou os quase 75% que assim estão em relação à saúde, constatamos que, no que de mais básico o Estado deveria garantir às pessoas, está – de facto – a falhar.
Se considerarmos, por exemplo, na área da saúde o aumento galopante do número de portugueses que tem contratualizado seguros de saúde privados e o crescimento do número de unidades de saúde privadas um pouco por todo o País, é claro que a insatisfação dos portugueses é o reflexo da realidade com que se deparam diariamente.
O que está em causa é mesmo o efectivo acesso aos serviços públicos que se divide cada vez mais entre quem pode e quem não pode arranjar uma solução fora do público. Temos assistido a uma inquietante dualidade: um País para quem pode pagar para aceder a serviços que deveriam ser garantidos dentro da resposta pública e quem tem de se limitar à (falta de) qualidade do que o Estado consegue oferecer.
Mais do que se centrar na estatização das respostas, o Governo deveria estar concentrado em oferecer o acesso a serviços públicos de que as pessoas tanto precisam, independentemente da natureza jurídica do prestador do serviço.
É a falta de respostas para os problemas que enfrentam que faz crescer a insatisfação das pessoas. E com toda a razão. Era tempo de o Governo se concentrar em criar respostas nas mais diversas áreas e problemas que se arrastam.
No custo de vida galopante, na habitação, na saúde, na educação. Mais do que retórica e propaganda, é essencial mostrar às pessoas que a política é capaz de mudar positivamente a sua vida.