Opinião
Ribeira
Continuando a falar de água. Conjunto de fontes e nascentes várias, antes de se ser rio, primeiro é-se ribeira
A água, portanto. Continuando a falar de água. Conjunto de fontes e nascentes várias, antes de se ser rio, primeiro é-se ribeira. Ora, há diferentes planuras para a paisagem onde esse engrossamento de caudal ocorre.
Se nascido em montanhas tem um caminho em espiral; se da planície emerge então sonhou primeiro que haveria de ser canal construído. Quando desce a montanha em espiralado trajeto começa do centro.
Assim, onde antes só havia escasso oxigénio, à medida que a ribeira desce, vai respirando melhor e sendo lembrado que na essência do seu percurso há também hidrogénio.
Juntam-se os dois em proporções atómicas que nos hão de explicar mais tarde. Há mais química na questão das matérias fluidas do que sedimentos a boiar à tona do rio.
Quando é preciso garimpar com o peneiro o fundo do rio este cede a largar suas poeiras de ouro e outros minerais, escondidos estavam guardados assim, como um tesouro.
Lamentam em pranto, que aumenta o leito com mais afinco que chuva tropical, quando revêem, a cada volta, por onde já passaram. Há quem se emocione à mesma vista e construa pontes que arqueiam a solução configuração dos meandros a que se destinam aquelas voltas no percurso. Outros turvos rios há que se apoderam dessa força, chegando a sua afluência ao limite do percurso.
Quando segue por um caminho de previsível planura a ribeira vai encontrando vários afluentes ajudantes e poços de água flutuantes até chegar à foz quando quer. Assim parece pelo menos.
Que de ribeira a rio demora ainda, e o percurso nem é só a beleza da vista e a agrura da rocha que se engole e esconde. A estes ribeiros move-os no fundo o mesmo, a invenção da maçã, com a sua oculta força gravitacional. Fluído que é, líquido desce, por território que seja.
São iguais no mapa, por mais escolhas que a região, a montanha, ou até um conjunto de pedras traga no meio da planície. Água é água, nas suas mais distintas formas.
Vistos de cima, estes ribeiros aparentam ser as raízes mais pequenas dos rios, que por sua vez são as raízes dos mares, dos oceanos. É que a grande árvore do planeta são os oceanos. Sem os quais evaporamos, juntando-nos num estado diferente.
Quando a ribeira corre, segue independente sabendo-se que a montante na sua vida encontrará outra água com a qual se juntar. É una a afluência que transmite em sentidos confluentes a força da corrente necessária para que haja caudal.
As afluências não secam no primeiro contacto. Sente-se a profundidade a aumentar à medida que outras fontes decidem contribuir pelos vales. Só quando se juntam, entretanto, é que deixam de ser ribeiras e se tornam rio.