Opinião
Sail on, sail on.
Sendo uma sugestão tremendamente suspeita da minha parte - esta que se segue -, sê-lo-á também certamente merecida.
Para quem conhece o meu trabalho, sabe que a Islândia e a sua tórrida produção musical norteiam não apenas a minha escuta mas também a possibilidade de colaborações quer no mundo do audiovisual, quer puramente musicais.
Foi na minha primeira viagem àquele país que conheci a então ainda muito desconhecida cantautora Myrra Rós.
Estávamos no Verão de 2012 e eu ia tocar alguns temas para piano a solo num café do outro lado da rua do mítico estúdio fundado pelos Sigur Rós, na pequena vila de Álafoss, em Mosfellsbaer (a menos de 30 quilómetros da capital), quando me cruzo com a Myrra e o seu marido que estavam prestes a actuar numa galeria mesmo ao lado.
A viola ao ombro e aquele ar um tanto ou quanto rebelde, tão característico dos nórdicos, fez-nos sentar e conversar ainda que por breves momentos, e permitiu-me ainda ser presenteado com uma cópia do seu brilhante primeiro álbum Kveldúlfur.
Alguns dias depois, escutei as nove faixas e fiquei pasmado por mais uma descoberta tão inusitada mas tão bem-vinda. Voltando à “suspeição” de que falei acima, tal decorre da posterior colaboração que eu viria a ter com a Myrra Rós e também com Júlíus Björgvinsson, seu marido, que resultou não apenas num disco em comum (2017) mas também numa banda sonora para uma curta-metragem documental (2017).
As vozes de ambos são de uma espacialidade pungente mas profundamente enternecedora... Björgvinsson, filho de Björgvin Tomasson (primeiro e ainda único construtor de órgãos de tubos na Islândia) é aparentemente o mais tímido de três irmãos mas não deixa de ser um entusiasmante multi-instrumentista e compositor por detrás de várias bandas, como é o actual “Var”, um projecto virado para o post-rock que conta também com Myrra Rós, entre outros músicos.
No entanto, e apesar de Björgvinsson vir a ser uma presença assídua nos projectos seguintes de Myrra, é totalmente desta a autoria das canções deste álbum de estreia Kveldúlfur, com edição no início daquele ano de 2012.
Sendo naturalmente perceptível alguma inexperiência na produção - referindo-me apenas ao aspecto meramente sónico deste trabalho -, é também indiscutível a sua maturidade musical, com letras bilingue, que emanam de um romantismo exorcizado e melodias brilhantemente rodeadas de uma orquestração auspiciosa pela sua contenção.
Feito também de silêncios e respirações, não fosse o berço deste trabalho a conivente e
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