Opinião

Somos o que lemos

1 set 2016 00:00

Ainda há muitas crianças e jovens que raramente pegam num livro.

Lembro-me de ser miúda e de devorar os livros e revistas que havia lá por casa. Que, percebi mais tarde, não eram tantos nem tão diversificados como seria desejável. Mas que eram mais do que os que havia na maioria das casas dos meus amigos à época, já lá vão mais de 30 anos.

Hoje, felizmente, a maioria dos miúdos tem acesso a muitos e diversos livros, mas não tem na leitura grande gosto. Vem esta pequena reflexão a propósito da notícia que nesta edição publicamos na última página, que dá conta que a promoção da leitura é uma das medidas comuns a todos os planos estratégicos de promoção do sucesso escolar elaborados pelos agrupamentos de escolas do concelho.

O Plano Nacional de Leitura e a Rede de Bibliotecas Escolares contribuíram para que a situação melhorasse bastante, mas a verdade é que ainda há muitas crianças e jovens que raramente pegam num livro (e não me refiro aqui aos manuais escolares).

Ora, os especialistas têm alertado que quem tem dificuldades em ler, em perceber e resumir o que lê, terá naturalmente dificuldade em compreender, relacionar e aplicar conceitos, nas mais diversas áreas. Não apenas enquanto se é estudante, mas também pela vida fora.

Quem de nós não conhece alguém que tem dificuldade em preencher documentos oficiais porque não percebe as perguntas? Em entrevista recente ao Diário de Notícias, João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra, faz uma afirmação que ilustra bem como pode ser determinante a influência dos pais nesta matéria. “Lá em casa nunca havia dinheiro para ir a um restaurante, mas para um livro sim”.

Os pais, naturais e residentes numa aldeia do concelho de Pombal, fizeram de tudo para que os cinco filhos (entre eles está também José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos) pudessem ter uma educação superior.

Nesta edição do JORNAL DE LEIRIA contamos ainda a história de três jovens que passaram boa parte destas férias de Verão a trabalhar. E de outros tantos que nunca o fizeram. E ouvimos empresários sobre o assunto.

Todos reconhecem os benefícios que o contacto dos jovens com o mundo do trabalho pode trazer, e defendem a existência de programas articulados entre as escolas e as empresas, para lhes permitir ter um vislumbre daquilo que os espera mais tarde, nas suas vidas profissionais. Seriam, assim, eliminados os constrangimentos legais e fiscais que actualmente condicionam o trabalho dos jovens nas férias.

*Coordenadora da redacção