Opinião

Sugus

17 mar 2016 00:00

Mas o que permaneceu como catalisador de algumas das melhores memórias de infância (além dos legos, mas isso é outra conversa) foram os sugus (...)

Ouço distraidamente uma música da Capicua; espero que o trânsito avance e acompanho a letra quando, de repente, surge uma palavra inesperada: sugus. É uma palavra mágica, que de imediato me desperta um sorriso e me faz fugir do trânsito parado, dos devaneios da Capicua, de um fim de dia sem história. Porque nesse momento, devido a uma simples palavra e ao que essa palavra evoca, regresso às tardes de domingo dos anos oitenta, quando os meus pais iam algures tomar café e regressavam com dois pacotes de sugus, para mim e para o meu irmão; tardes pachorrentas preenchidas com coboiadas antigas na RTP, em que se tentava não pensar em escola, em que se esperava pelas sete da tarde para ver mais um episódio do Justiceiro.

Mas o que permaneceu como catalisador de algumas das melhores memórias de infância (além dos legos, mas isso é outra conversa) foram os sugus, talvez por serem uma memória com gosto, com cheiro, com tacto; uma memória com sentidos. É curioso o modo como personificamos em objectos as sensações que nos fazem sentir vivos; é curioso, e algo infantil, o modo como povoamos o mundo que nos rodeia com as nossas emoções. Talvez seja uma estratégia inconsciente de selecção, já que em cada dia existem inúmeras sensações, pensamentos, desejos, fantasias e emoções que se apoderam de nós, sendo impossível (e indesejável) guardar tudo na memória. Mas como se fará essa selecção?

*Escritor

Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo