Opinião
Teoria do Caos dos Ecossistemas
Temos de varrer das nossas vidas as montras e os casamentos com plumas, os cágados em aquários de plástico e tantas outras coisas
Diz a teoria que mudar o mundo para melhor começa com pequenos gestos individuais. Estes gestos são as nossas condições iniciais de mudança e compreende-se porque é que funcionam - só não temos tempo de esperar pelo seu demorado efeito borboleta, quando falamos da 6ª Extinção em Massa.
Porque é que não temos tempo para contar só com estes gestos? Por aquilo a que chamarei de Teoria do Caos Inversa, para efeitos dramáticos! É que esta teoria é exactamente a mesma teoria que ajuda a explicar porque é que há que estar inquietadamente atento e actuante relativamente aos sinais de disrupção ecossistémica que abundam no planeta.
Não porque não suportamos ver o mundo sem ursos polares, ou porque não aguentamos mais um dia a levar com plumas de cortaderia selloana no Instagram da nossa influencer preferida - mas antes porque o que parece inofensivo à maioria das pessoas, pode acabar por ter consequências devastadoras para toda a espécie. Vamos ao exemplo? Vamos! (e nem sequer vou falar de Alterações Climáticas, comme d’habitude!) Segundo cientistas da Universidade Davis da California, verifica-se desde os anos 80 um declínio considerável de anfíbios na América Central.
Este declínio (em alguns casos extinção) no número de sapos, rãs, salamandras, foi directamente relacionado a surtos de Malária nas regiões onde ocorreram esses declínios. Os anfíbios foram infectados por fungos, começaram a morrer, deixando de comer os ovos de mosquitos que, por sua vez, se disseminaram em número suficiente para causar estes surtos.
Qual o (provável) primeiro batimento das asas da borboleta que deu este tufão, perguntam vocês: o comércio de animais selvagens. Sim, animais exóticos introduzidos num habitat que lhe é estranho pode ter consequências devastadoras para todo um ecossistema. É assim que funcionam também os impactes das EEIs no nosso País!
Temos de varrer das nossas vidas as montras e os casamentos com plumas, os cágados em aquários de plástico e tantas outras coisas que estão a pôr em causa os nossos habitats. Voltando à teoria do caos: é possível, sim, tomarmos pequenas atitudes que ajudem a fazer a diferença: saber e dar a conhecer o que são Espécies Exóticas Invasoras (EEIs), não comprar animais selvagens, ou participar no mapeamento de EEIs através do Invasoras.pt.
Mas, mais uma vez, são necessárias políticas públicas de combate e controlo, cumprimento da lei, novas leis, e conservação e restauro ecossistémico. E sabem que mais? Temos de começar a bater essas asas já!