Opinião

Teorias rurais

18 fev 2016 00:00

A literária Estação das Chuvas não passa de um depressivo momento nas nossas paragens, já demasiado cansadas de humidades e bafio.

O tempo... Não se fala de outra coisa! o Carnaval passou e o Lis mostra o seu esplendor galgando aluviões entre as Fontes e a praia da Vieira. Também o romântico Lena já subiu cinco metros, esmagando o Rego Travesso, num frenético weekend nas várzeas chuvosas dos Campos de Ulmar.

Felizmente, tanto quanto sei, não houve fatalidades. Explicam-me que os fenómenos hidrogeológicos extremos fazem parte da nossa história, associados à abundância hídrica da cidade e ao açude do Arrabalde.

A impermeabilização das vertentes intervém igualmente no encaminhamento dos fluxos hídricos para um mesmo e avassalador leito. A literária Estação das Chuvas não passa de um depressivo momento nas nossas paragens, já demasiado cansadas de humidades e bafio. Uma África Ocidental, com menos 30 graus, não pode de facto agradar a ninguém!

Os tratores presos na lama, as mazelas gripais (vulgo “pingo no nariz”) e as dificuldades no tratamento do vestuário quotidiano (“secar a roupa”), confirmam as dificuldades que a população sente em lidar com este tempo malsão.

A Quaresma em curso bastaria para justificar o recolhimento emocional dos meus concidadãos, mas este fastidiante clima garante as portas fechadas e o absoluto silêncio desta infindável invernia. Nestes dias encontro consolo na leitura de alguma prosa poética, estilo literário que me define e ampara até à Páscoa (que este ano, felizmente, até parece chegar mais cedo).

Agradeço a compreensão e paciência dos leitores durante este período de penitenciamento, que pode ser aproveitado, entre outras coisas, para desenvolver a meditação e a caridade, enquanto se aguardam melhores ventos.

*Investigador