Tindersticks – Soft Tissue: o Perfume da Voluptuosidade Sonora

A menos de dois meses do seu muito ansiado regresso em concerto a Leiria, os Tindersticks disponibilizaram no mercado o seu novo álbum, em que sob o título Soft Tissue voltam a desvendar a sua especificidade inventiva e o seu existencialismo criativo, celebrando em grande estilo um ressurgimento dos seus melhores momentos, num disco em que a banda de Nottingham volta a deslumbrar num conjunto de novas canções em que sobriedade e emoção se conjugam e contaminam subtilmente o ouvinte mais exigente, enleando-o numa irresistível coreografia de qualidade e prazer, como se fossem cartas de amor escritas com toda a devoção e afeto.

Stuart Staples e os seus sequazes seduzem-nos dos primeiros aos últimos acordes deste disco em que as canções se sucedem numa envolvência emotiva e encantatória, resultando num excelentíssimo e magnetizante álbum, pleno de instantes em que nos mimam enamoradamente e nos indiciam a uma surpreendente ductilidade, com a hipnótica “Nancy” a denunciar-se desde logo entre as canções dos Tindersticks que recordaremos eternamente, encantando pela sua nostalgia dançante e pela sua subtil ambiência voluptuosa. “Always a Stranger” é outra das canções mais inspiradas deste disco, fundamental no equilíbrio entre a sua sensibilidade melódica e a sua beatitude sensorial. “The Secret of Breathing” é também uma daquelas canções que despem literalmente o ouvinte, envolvido numa libidinosa vocalização e num contexto instrumental cristalinamente redentor, coroando superiormente um álbum em que cada átimo vale pelo todo e esse todo é um superno exemplo de voluptuosidade sonora, num disco em que os Tindersticks nos levam fleumaticamente para a cama, como se a sua tão distintiva pop se tivesse apimentado numa inapelável dimensão de concupiscente pureza.

Soft Tissue será provavelmente nuclear no concerto que quatro anos e meio depois da sua rememorável atuação no Teatro José Lúcio da Silva trará novamente os Tindersticks a Leiria e isso significa apenas que não há como fugir-lhes e rendermo-nos novamente a tanta qualidade e tanta classe. Combinado?