Opinião
Tragédia no Mediterrâneo versus aventura de milionários
Até quando vai a União Europeia continuar a pagar a autocratas, como o presidente Turco Erdogan, para não permitirem a entrada na UE de refugiados?
No passado dia 14 do presente mês um barco de pesca com mais de 750 migrantes, saiu da Líbia rumo à Itália, naufragou no sul da região do Peloponeso, na Grécia. As equipas conseguiram resgatar cerca de 100 passageiros de diferentes nacionalidades (egípcios, sírios, paquistaneses, afegãos e palestinianos) no entanto as autoridades pensam que cerca de seis centenas estarão presos debaixo do barco.
Sendo que quase todos eram refugiados que fogem dos seus países em guerra e da fome que é uma realidade em parte do continente africano e ásia central. Só uma pessoa desesperada corre os riscos de uma viagem do Afeganistão ou da Somália até a Europa em condições idênticas às destes migrantes.
As autoridades europeias, pela voz da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeram fortalecer a cooperação entre a União Europeia e os países vizinhos para tentar reprimir ainda mais o tráfico de migrantes e assim evitar futuras tragédias.
Infelizmente já nos habituámos a promessas destas ao longo dos últimos anos que não evitaram a morte de mais de 26000 pessoas no Mediterrâneo central desde 2014.
Estas repetidas tragédias vão continuar a acontecer por falta de vontade política de resolver os problemas mais graves nos países de origem deste migrantes/refugiados. Enquanto o Ocidente continuar a explorar os países mais pobres e a permitir que ditadores locais usem o povo como arma de chantagem para reforçar o seu poder, estas tragédias vão-se repetir no Mediterrâneo.
Qual a razão para não impor sanções idênticas às impostas à Rússia por causa da guerra na Ucrânia a países com regimes ditatoriais que exploram o seu povo?
Até quando vai a União Europeia continuar a pagar a autocratas, como o presidente Turco Erdogan, para não permitirem a entrada na UE de refugiados? Não seria mais sensato ir à origem dos problemas nesses países do que alimentar, mesmo que indiretamente, a exploração destas pessoas?
Esta tragédia também mostrou, de forma clara, a falta de qualidade da maioria da comunicação social portuguesa que pouca ou nenhuma importância deu ao acidente quando comparamos com a histeria ao redor do acidente do pequeno submarino Titan, da OceanGate Expeditions, que desapareceu no passado dia 18 com cinco passageiros que participavam numa expedição turística com o custo unitário de 230 mil euros.
Ficou claro que é muito mais “importante” para as direções da medíocre comunicação social portuguesa acompanhar a tragédia de 5 privilegiados do que contribuir para compreensão e futura resolução de problemas gravíssimos dos mais pobres deste mundo.