Editorial
Um café e um pastel de nata
O chamado Mercado da Saudade é um nicho de negócio que pode ser também um mar de oportunidades para o empreendedorismo
Quem está habituado a viajar para fora do País, seja em trabalho ou em lazer, conhece bem a vontade que traz no regresso, de saborear a tradicional bica curta, o pastel de nata com canela, ou, num outro patamar, um bem temperado bacalhau assado no carvão. Isto para não falar de um suculento frango grelhado, um cozido à portuguesa ou um cabrito no forno, acompanhados de um copo de bom vinho tinto.
Se esta saudade é aguçada em 15 ou 20 dias de ausência do território nacional, imagine-se o que sentem os nossos emigrantes, que por norma só conseguem voltar uma vez por ano, para um curto período de férias. É aqui que entra o chamado Mercado da Saudade, um nicho de negócio que pode ser também um mar de oportunidades para o empreendedorismo, mas que é, sobretudo, um espaço sensorial que transporta quem está fora para um universo de memórias afectivas e laços culturais.
Segundo o Atlas da Emigração Portuguesa, publicado no início do ano pelo Observatório da Emigração, existem actualmente cerca de 2,1 milhões de portugueses espalhados pelo mundo. À proporção, Portugal é o país europeu com maior número de emigrantes e o oitavo a nível mundial. Não admira, por isso, que as exportações de produtos portugueses para os “mercados da saudade” continuem a aumentar e até a renovar-se, para responder às necessidades e gostos dos emigrantes mais jovens.
Em sentido contrário, com o crescimento das comunidades imigrantes, também começam a surgir no nosso País e na nossa região, as mercearias e mini-mercados com produtos originários de outras geografias, que nos permitem, a nós, ‘matar saudades’ da iguaria que nos despertou o palato numa qualquer deslocação ao estrangeiro. E, através desta partilha de aromas e sabores, podemos celebrar a diversidade, enaltecer a multiculturalidade e fortalecer a integração. Sai um chope e um tira-gosto.