Opinião

Um cocorocó para os senhores conselheiros

18 fev 2016 00:00

Desumanizar o processo de ensino e de aprendizagem, gerar hétero e autoexclusões e múltiplas agressividades no seio da comunidade escolar, deformar o crescimento intelectual e emocional das crianças, eis o que fazem os referidos exames!

Vi, esta semana, num programa de televisão uma galinha amestrada! Bem treinada conseguiu realizar com êxito as tarefas “complexas “ do seu programa! Digamos que, aquele galináceo foi a exame e passou com vinte!

Registo aqui esta situação porque considero que ela pode ajudar a perceber os malefícios da permanência de exames no 4.º ano e no 6.º ano de escolaridade. À cabeça surge o facto de tal como no treino da galinha, (um animal com emoções, mas incapaz de fabricar sentimentos humanos), também quando se treinam alunos para um exame, os seus sentimentos, surgirem como algo completamente dispensável.

Para o professor, convertido pela pressão dessas provas em treinador, a forma como a criança lhe manifesta o que sente durante o treino traduz-se em comportamentos indesejáveis causadores de ruídos incómodos que urge, rapidamente, excluir do processo.

Como? Bem, se os alunos fossem galinhas seria fácil: na impossibilidade de os convencerem a treinar usando como estímulo o medo de falharem no exame (medo que a galinha não sente), convencê-los-iam recompensando-os com comidas saborosas sempre que agissem de forma correta e “voila, problema resolvido! Mas como as crianças não são galinhas, com elas é diferente!

Seres humanos que são, o “medo” de falhar num exame obriga-as a reagir. E se umas reagem passivamente ao treino que lhes é  imposto, outras sentindo-se durante esse processo sem talento, sem confiança e com medo, reagem frustradas e partem para a agressão do outro ou de si mesmas.

E depois ainda há a exclusividade do muito tempo de trabalho exigido pelo treino. Se no caso da galinha esta exclusividade do tempo é compreensível - por impossibilidade da ave fazer as suas escolhas, a centralidade do treino na vida da galinha é decisão do seu treinador- já com as crianças será um crime agir dessa forma.

Fazer do sucesso nos exames o grande objetivo de vida das crianças e reduzir a aprendizagem na Escola à imposição de atividades de treino das matérias das disciplinas examináveis, na fase das suas vidas em que mais e melhor aprendem tudo surge, convenhamos, como um mecanismo claro e até intencional, de castração intelectual e emocional.

Desumanizar o processo de ensino e de aprendizagem, gerar hétero e autoexclusões e múltiplas agressividades no seio da comunidade escolar, deformar o crescimento intelectual e emocional das crianças, eis o que fazem os referidos exames!

E os diretores das escolas, os que estão no Conselho das Escolas (CE), ainda defendem os exames?! Ah, então já compreendi… Só me resta saudar esses conselheiros com um enorme, sonoro e furioso cocorocó!

*Professor