Opinião

Um novo paradigma

18 abr 2022 15:45

Este não é só o tempo de apertarmos o cinto, mas sim de reconfigurarmos as nossas vidas

A Covid-19 foi a ponta do iceberg para a emergência de uma nova realidade para a qual nem a Europa nem o Mundo estavam preparados, nem nós.

Já antes do aparecimento da pandemia a realidade internacional dava sinais da doença de que a Humanidade e os países padecem, no espaço de três gerações evoluímos, principalmente na Europa, para um modelo social que não encontra sustentação na capacidade produtiva real das pessoas e das empresas e teremos de encarar este facto, por mais que não nos seja transmitido.

Isto significa que caminhamos para um cenário macroeconómico de estagnação ou o chamado crescimento zero, isto é, toda a riqueza produzida será canalizada para financiar as condições ao nível da saúde, educação e apoios sociais que temos hoje em dia.

A guerra na Ucrânia acelerou o fenómeno inflacionista que já se verificava, a disrupção das cadeias de abastecimento, atrasou a “recuperação” económica da Europa e agudizou as dificuldades das pessoas e das empresas com o aumento dos custos da energia e dos bens agroalimentares.

A 08/04/2022, o Governo português em Conselho de Ministros decidiu e preparou um pacote de medidas extraordinárias de resposta imediata para conter os impactos sociais e económicos da guerra, designadamente, i) contenção dos preços da energia (limitação dos impactos da subida do preço do gás no custo da eletricidade, suspensão do aumento da taxa de carbono até junho), ii) apoios à produção (redução do ISP sobre o gasóleo colorido e marcado agrícola até ao final do ano), iii) apoios às famílias (alargamento das medidas de apoio ao preço do cabaz alimentar e à aquisição de botija de gás a todas as famílias titulares de prestações sociais mínimas), iv) aceleração da transição energética (reforço de 46 milhões de euros para instalação de painéis fotovoltaicos em 2022 e 2023).

O Mundo mudou e temos agora a oportunidade de transformarmos os nossos caminhos sob uma perspetiva mais ecológica, economicamente sustentada e solidária socialmente.

Este não é só o tempo de apertarmos o cinto, mas sim de reconfigurarmos as nossas vidas de acordo com as nossas possibilidades, descermos à terra e adotarmos um paradigma em consonância com o ecossistema à nossa volta.

Caso contrário, estaremos somente a empurrar com a barriga e para as futuras gerações um desfecho inevitável de pobreza, calamidade e destruição para o planeta e para a humanidade.

O que devemos então fazer?

O primeiro passo será em consciência refletirmos sobre o estilo de vida que levamos e a nossa (in)capacidade para o manter somente com os dividendos do nosso trabalho sem dependência externa; o segundo passo será agir, tomar decisões, reconfigurar, mudar e avançar sempre de olhos postos no futuro, com esperança e determinação.

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990