Opinião
Um Pinhal de Leiria para o século XXI
A área do Pinhal de Leiria é propícia ao crescimento de uma grande diversidade de plantas.
Na zona mais litoral, nos cordões dunares ao longo da praia fustigados pelo mar e por ventos carregados de sal, surgem o Feno-das-areias, a Perpétua, o Cardo, o Junípero, a Arméria-marítima, e muitas outras espécies adaptadas a estas condições extremas.
Para o interior destes cordões dunares começam a surgir plantas como o Samouco, a Aroeira, as Camarinhas, o Lentisco ou o Pinheiro-manso que nesta zona serpenteia junto ao solo para se proteger do vento.
Mais ainda para o interior, onde a influência marítima se ameniza e as areias têm mais fertilidade, já podem crescer o Carvalho, o Sobreiro, o Medronheiro, o Pinheiro-bravo, o Sanguinho-das-sebes, o Folhado ou Pinheiro-manso que aqui já se desenvolve em altura.
Nas zonas de vale, onde há acumulação de água, podem instalar-se o Freixo, o Salgueiro, o Loureiro, o Junco ou os Lírios.
A plantação do Pinhal de Leiria para a produção de madeira, que aqui tem excelente qualidade, levou à eliminação de toda a diversidade natural de plantas para que se cultivasse exclusivamente o Pinheiro-bravo.
O problema é que o Pinheiro-bravo é altamente inflamável e o seu cultivo numa mancha contínua e de grandes dimensões sempre provocou, e provocará, incêndios contínuos e de grandes dimensões.
E também há que ter em conta que outrora o Pinhal-de-Leiria tinha cerca de 200 pessoas que o limpavam e vigiavam mas quando ardeu em 2017 já praticamente não tinha manutenção.
Se queremos ter um Pinhal de Leiria para o século XXI teremos que tirar as devidas ilações do fatídico incêndio de 2017 e garantir que terá uma nova forma adaptada às condições actuais: a pouca manutenção e a necessidade de equilíbrio natural.
Um Pinhal de Leiria para o século XXI terá que ser muito diferente do antigo.
Os talhões do inflamável Pinheiro-bravo terão que ficar bem compartimentados por uma matriz constituída pela grande diversidade de árvores, arbustos e herbáceas que crescem naturalmente na área do Pinhal de Leiria e são pouco inflamáveis.
Esta matriz servirá para impedir a propagação dos incêndios, fixar as areias, controlar os ventos marítimos, assegurar a biodiversidade e criar uma paisagem característica desta orla atlântica naturalmente equilibrada e bela.