Opinião

União como?

4 fev 2016 00:00

É isto, portanto, a União Europeia. Um lugar a um tempo egocêntrico e desinteressado dos seus; um lugar de salve-se quem puder, desconfiado e infeliz.

Cumprindo com a agenda infernal do Daesh, mais um ataque bombista na Síria matou este Domingo sessenta pessoas e feriu cento e dez. Mas pouco se falou nisso porque não aconteceu em nenhum país da UE. Mais um naufrágio aconteceu também, deixando outra vez uma praia semeada de mortos, entre os quais crianças; as televisões anunciaram imagens chocantes mas as redes sociais já não se fizeram eco delas, não se inflamaram com comentários e declarações nem se multiplicaram em iniciativas de chamada de atenção ou de auxílio.

O povo que recolhe os cadáveres é também o povo em pior situação económica e social da UE, mas de quem já ninguém quer saber depois das parangonas do seu descalabro terem deixado de vender. No país que mais refugiados recebeu, e que é também o mais odiado pelos outros países da UE, a mais alta figura do estado admira-se por não ser possível absorver todos os que fogem, acusando os governos e os 500 milhões de habitantes de falta de vontade, e lembrando que o Líbano acolhe um incrível número de refugiados per capita que perfaz já 25% da população.

A Grã-Bretanha prepara-se entretanto para discutir as suas condições de permanência dentro da UE, que passam por retirar poder a Bruxelas e por manter uma especial autonomia do país, que nunca quis nem quererá pertencer à zona euro. E, de pouca monta para o resto da União, mas de enormíssima para nós, assestam-se agora as baterias contra o orçamento de estado de um país supostamente soberano onde, à semelhança de outros, grande parte da população vê as gentes de Bruxelas como alvos a abater. É isto, portanto, a União Europeia. Um lugar a um tempo egocêntrico e desinteressado dos seus; um lugar de salve-se quem puder, desconfiado e infeliz. Um lugar de permanências convenientes, mas falhas de visão, de cultura e de coração; e muito esquecido da sua História. Uma união que perdeu de vista o que a deveria unir, transformando a partilha primordial numa espécie de saque e a entreajuda numa forma de servidão. Uma coesão imposta que a nenhum “pequeno” trará vontade de ajudar um “grande” quando, também a ele, chegar a vez de vacilar. Um lugar de esquecimento dos princípios que a constituíram como promotora da paz, dos seus valores e do bem-estar dos seus povos. Um lugar perdido.

*Professora de Dança