Uns fazem listas, outros poemas

Meio do ano. Para onde foi a primeira metade de 2023? Nunca saberemos. O buraco negro que engole mês após mês após mês, não descansa e não vacila. Impiedoso. Não tarda nada é Natal. Passa o Verão num corropio e, vai-se a ver, já estamos todos aqui a meter listas dos melhores do ano disto, daquilo e daqueloutro. Como é que se trava isto?

Agora que as férias espreitam, sedutoras, com promessas de tempo infindável para tudo e para todos, como é possível já irmos a meio e a caminho do fim? Calma, pá! Que drama! Aproveitemos mas é essas férias que espreitam, sedutoras, com promessas de tempo infindável para, pelo menos, meter a música em dia. E que melhor ajuda para tal tarefa, que uma (muito) pequena lista de disquinhos frescos e fofos para refrescar esses streamings frente ao mar?

Pois bem, ninguém pediu, mas cá vai ela: “A-lista-definitiva-dos-três-melhores-discos-de-meio-do-ano-que-também-vão-ser-os-melhores-três-discos-de-todo-um-ano-que-não-tem-sido-muito-prolífico-em-discos-extraordinários-com-excepção-destes-três-e-talvez-uma-mão-cheia-mais”.

Deixando de fora desta tríade o mais recentemente lançamento dos Belle & Sebastian, “Late Developers”, que tardou pouco mais de dois segundos a tornar-se um clássico instantâneo, a obra-prima que é “This Stupid World”, dos Yo La Tengo, ou a tremenda surpresa da descoberta tardia dos The Reds, Pinks and Purples e o extraordinário “The Town That Cursed Your Name”, recomendo-vos o consumo sem moderação do colossal “A River Running To Your Heart”, dos norteamericanos Fruit Bats, “Wide Wall, Tree Tall”, dos portugueses Cave Story e, principalmente, a benção pop-folk que é “Jo Faig Ranquings, Tu Poemes”, dos Ran Ran Ran.

Projecto do fabuloso escritor de canções que é Ferran Baucells, os catalães entregam-nos neste disco uma colecção de 10 pérolas onde cabem todas as nossas vidas passadas, presentes e futuras.

Verões de infância e adolescência, amizades eternas, amor, luz e coisas bonitas. Tantas coisas bonitas. A sério. Se não puderem ouvir mais nada, ouçam só isto… o resto do ano e dos anos vindouros.