Opinião
Urgências entupidas
Falamos das falsas urgências que entopem os hospitais, causando o caos num serviço que deveria estar focado nos problemas de saúde mais críticos, muitas vezes a balançarem entre a vida e a morte.
A denúncia, por parte de diversas corporações de bombeiros, de que o Centro Hospitalar de Leiria está a reter macas por falta de camas, obriga-nos a pensar na forma como estamos a utilizar os serviços de saúde públicos.
O problema não é novo, mas parece agravar-se de ano para ano, à medida que vão aparecendo vírus com maior capacidade de contágio, mas também com o envelhecimento da população.
Falamos das falsas urgências que entopem os hospitais, causando o caos num serviço que deveria estar focado nos problemas de saúde mais críticos, muitas vezes a balançarem entre a vida e a morte.
No entanto, como se sabe, não é isso que acontece, com as urgências hospitalares a receberem todos os dias inúmeros casos, que chegam a atingir os 50%, que não deveriam ali ser tratados, um problema que tem consequências diversas, sendo que nenhuma delas é boa.
Por um lado, a elevada pressão que causa nos médicos e enfermeiros tem levado muitos deles a procurarem outras soluções de trabalho, nomeadamente em Centros de Saúde e Unidades de Saúde Familiares(USF), onde se ganha praticamente o mesmo com melhores horários e menos tensão.
Por outro, há a questão dos tempos de espera para os doentes serem atendidos, muitas vezes em situações de sofrimento, que chegam a atingir várias horas.
Por último, a questão mais crítica que é o cansaço que esta situação causa nos médicos e enfermeiros, o que aumentará certamente a probabilidade de acontecerem erros, que em saúde podem ser irreversíveis.
Trata-se, portanto, de um problema de enorme sensibilidade sobre o qual é urgente serem tomadas medidas, que terão de passar pelo reforço dos cuidados primários nos Centros de Saúde e nas USF, quer com meios humanos quer com horários de atendimento mais alargados, mas também pela educação dos utentes, que, tendo outras soluções, terão de se habituar a não recorrer às urgências hospitalares por ‘dá cá aquela palha’.
No caso do Hospital de Santo André, em Leiria, poder-se-á também argumentar que a sua dimensão e capacidade actuais de prestar cuidados não estão ajustados à área de influência que entretanto ganhou, com a inclusão dos hospitais de Pombal e Alcobaça, mas também ao ser a instituição de referência do concelho de Ourém, começando os problemas logo no parque de estacionamento.
Como é óbvio, ao ser procurado por muito mais pessoas, aquele hospital deveria ter tido um crescimento proporcional no número de médicos, enfermeiros e outros recursos humanos, além do ajustamento da estrutura física.
Ou seja, temos vários factores a contribuir para o problema, cuja resolução obrigará a maior despesa, algo que já todos percebemos não estar bem colocado na hierarquia de Centeno.
No entanto, seria, muito provavelmente, um gasto maior no imediato para poupar no futuro, já que o tratamento de doenças é tão mais caro quanto mais graves elas são.
*director