Viver
Vamos dar cabo do capitalismo na casa dele
É que nem que os putos passassem 15 horas em casa conseguiriam usufruir de tudo o que para aqui vai.
Queridos quase amigos, primos, tios afastados e pessoas que sofrem de uma patologia sazonal e desnecessária de oferecer traquitanas chinesas aos nossos miúdos… Deixem estar, agradecemos cordialmente, mas não o façam. Felizmente, eles têm tudo o que precisam, e mais um bocadinho. E, para vos ser sincero, eu não quero cá ver mais bonecos fofinhos que fazem xixi e dizem “mamã, tenho a fralda numa miséria”, nem brinquedos de terceira divisão vítimas de abandono.
Dá-me pena, e dá-me comichão, na pouca arrumação que ainda possuo. É que nem que os putos passassem 15 horas em casa conseguiriam usufruir de tudo o que para aqui vai. Eu já sabia que era um sonhador, mas este Natal sinto que descobri um missionário dentro de mim. Salvo seja! Esta é a minha missão, topem: somos uns tesos. Por causa das luzes, da pub na TV e da música dos Wham, levamos uma chapada solidária e amorosa e desatamos a comprar plástico e pelúcia indiferenciada, que não acrescenta nada à vida da criançada e faz mossa na carteira.
A lista vai de crianças que nunca vimos, a pessoas que cometeram o erro de nos oferecer uma caneca em 1998. Eu acho que está mal e vou entrar em negociações conjugais para resolver isso. Sei que vou perder mas tenho de acreditar. Isto de discutir com a senhora é como ser do Sporting, sei que mereço ganhar, mas no fim… Tenho esperança (não sou totalmente imune a esta época delicodoce chamada Natal) que a atitude tomada seja a de juntar o dinheiro, que previsivelmente gastaríamos, naquelas prendas só para inglês ver, e oferecer essa quantia a quem realmente preciso? Há centenas de associações a apoiar centenas de causas, é escolher.
Nadando para fora de pé a nível matemático fiz estas contas (podem ir buscar a calculadora que eu espero): 30 prendas que não aquecem nem arrefecem a 5€ (já não se compra nada abaixo deste valor, pois não?) dá 150€, o que a muita associação, a viver, também elas, no limiar da pobreza, daria um jeitão. Fazíamos uns cartões bonitos, com renas, meninos em cuecas num estábulo do deserto e velhos de barbas, a explicar o gesto. Aqueles primos que nem sabem que são da tua família receberiam um postal a dizer algo deste género: em vez de receberes um brinquedo manhoso ofereceste uma refeição a uma criança refugiada, sente-te orgulhoso pá. Só vejo vencedores nesta ideia.
Ajudamos quem precisa, fazemos menos lixo, e principalmente, não me sentiria tão culpado por não mexer uma palha no que diz respeito às compras de Natal cá de casa. Para os nossos filhos queremos sempre o melhor, certo?
Portanto, pessoas próximas, se querem mesmo comprar prendas, comprem coisas que reflictam a vossa personalidade e vá ao encontro da individualidade dos garotos. Se não são assim tão chegados… telefonem, apareçam com tempo e disponibilidade para brincar com os putos. É um desperdício de vida não serem verdadeiramente próximos dos meus filhos. Ou então, ofereçam a quem precisa.