Opinião
Vir para a rua
Portugal precisa, urgentemente, de vir para a rua, respirar, comer cenas feitas com mãos sem luvas, sem polícia a multar, sem gente a “calistar”
No México, com os Moonspell, na carrinha, a caminho de Cuernavaca (a cidade da eterna primavera), o nosso amigo mexicano Luís pergunta-nos: “E em Portugal, o que se come nas ruas?” Eu hesito… digo: “Castanhas, couratos e bifanas depois da bola, sardinhas nos Santos”, ou aquelas roulottes “muita giras”, mas caras como o caraças, a servir pokes orientais, ou lá o que é..., mas, concluo que, na verdade, Portugal não tem, ao contrário do México, cultura de “comer na rua.” E isso diz alguma coisa de nós, e da Europa em que estamos, que ajudámos a fazer: assética, paranoica, fingidora.
Em Monterrey, na Cidade do México, aqui, em Cuernavaca, há pessoas nas praças, não só a venderem comida (e boa), como tantas outras coisas (piñatas, foguetes, amendoins, picante...), em plena estrada, a fazer pela vida, entre o tráfico intenso, onde, curioso, quase ninguém protesta, mas aceita como parte da imensidão que é este país da América Central, em termos de população.
Em Portugal, a ASAE tudo fecha e tudo multa, ou então é a AT com os seus mil impostos, as autarquias com as suas incalculáveis licenças para tudo e no meio deste pesadelo burocrático, Portugal vai perdendo a sua autenticidade, a sua cultura (valha-nos a Nazaré e as bancas de carapau enjoado, que persistem) e vamos todos para a Padaria Portuguesa, beber bicas, comer bolos descongelados e ver o Zelensky na televisão a pedir mais armas, mais vidas.
Estão-me a saber pela vida, esta ruas no México! Já não podia com os padres pedófilos, com os dinheiros da TAP, com a corrupção no futebol, com o festival da canção, com os lucros da Galp, com o Marcelo, com o Costa.
Portugal precisa, urgentemente, de vir para a rua, respirar, comer cenas feitas com mãos sem luvas, sem polícia a multar, sem gente a “calistar”, senão, corremos o risco de ficar como praticamente todos os outros sítios agora na Europa: sem vida.