Opinião
Votos e marmelos
Como não só de cáries vive o homem, importa tentar reflectir, um pouco, sobre mais uma jornada eleitoral
Finalmente chegaram! Depois das primeiras chuvas, das autárquicas e da vindima, acolhemos mais uma vez os silvestres e económicos marmelos! As cozinhas passam rapidamente a cheirar a fruta cozida, a açúcar ou estévia. A economia doméstica cresce por esta altura, momento em que para além da fruta e do adoçante, apenas é necessário fogo para derreter o conteúdo dos tachos.
Uma vizinha funcionária pública sugere-me a utilização de uma máquina Bimby nestas confecções, dispensando também o elemento fogo. Ainda não foi este ano que experimentei esta modalidade, muito embora me digam que aparentemente assim se prolonga em muito a vida das panelas. Não sei até que ponto o açúcar fervido desgasta o metal, mas vou colocar esta questão à inteligência artificial quando para a semana me vierem voltar a ligar a internet.
Como não só de cáries vive o homem, importa tentar reflectir, um pouco, sobre mais uma jornada eleitoral. A expressão democrática no seu estado mais puro, expressa no poder local, resultou na manutenção da ordem nossa conhecida, irmãmente dividida entre os dois maiores partidos. No distrito de Leiria, um terceiro agrupamento político aproximou-se, sem alcançar, os 12% de votos, assumindo o seu peso marginal quando se trata do país real. Assinale-se também a surpreendente prestação do CDS, que conseguiu em Leiria ter mais votos que o BE e do que a CDU.
As capitais do norte e do sul, onde residem os maiores consumidores do poder central, foram varridas por uma maré laranja que alcança também as arribas atlânticas (Peniche e Nazaré). Contudo, na região centro, capital económica e intelectual da república, surge agora um foco de resistência orgânica, já chamado de Cavaquistão Rosa, com os distritos de Coimbra, Aveiro, Leiria, Viseu e Guarda (mas também Castelo Branco e Bragança), a insistirem no socialismo como modelo de governação preferencial.