Desporto

Alexander Tolstikov: "Parece que há alguém interessado em que haja problemas financeiros na SAD"

10 nov 2016 00:00

Seis meses passaram desde a Operação Matrioskas. Na primeira entrevista que concedeu após esse episódio, o presidente da SAD falou do processo, das relações com o clube e dos sonho que continua a ter para a União de Leiria.

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Passados estes seis meses, já sabe o que lhe aconteceu?

Não quero ofender ninguém, porque não tenho factos e acho que nunca vou ter. Mas não sou surdo, percebo que alguém escreveu uma carta anónima e que andou - e anda - a falar mal de nós.

Sabe quem é esse alguém?

Não sei, nem quero saber. A cidade é pequena, para quê saber? Sei que a vida vai por tudo e todos nos seus lugares.

Foram os piores momentos da sua vida?

Foi um choque! Continuo a não conseguir perceber, mas foi tudo muito estranho e assustador. É mais parecido com uma anedota idiota, começando logo pelo nome da operação. Matrioska é uma símbolo do bem, dos sentimentos puros e positivos.

Sente que o ambiente está mais desanuviado?

Não, e é muito estranho aquilo que se está a passar na cidade. Há sempre muitos boatos e, sinceramente, isso incomoda-nos. Não gostamos deste tipo de rumores. Vim para Leiria como pessoa de negócios, sabendo como fazer um bom trabalho num clube de futebol e tentando executá-lo da forma mais profissional possível. Investimos muito dinheiro pelo terceiro ano consecutivo e há uma sensação – que não é nova – de que isso incomoda alguém. Hoje em dia há equipa e há dinheiro na União de Leiria e o clube, que vivia com grandes dificuldades, está agora com saúde financeira, mas a verdade é que este trabalho nos levou à prisão.

Como são as relações entre a SAD e o clube?

As eleições para os órgãos sociais do clube - do qual tenho orgulho de ser sócio - aconteceram numa altura em que não estávamos em liberdade e não pudemos participar nem influenciar o processo. Pareceu-nos um pouco estranha a pressa em marcar as eleições depois de um ano de espera e com uma comissão de gestão à frente do clube, porque poderia ter-se dado um pouco de tempo para ver o que acontecia connosco. Decorreram as eleições, sei que foi um processo atípico. Deu que falar, ainda dá que falar e nós até compreendíamos que iria haver um período de transição, mas esse período continua e as eleições já foram há cinco meses. Neste momento não se pode dizer que exista uma harmonia entre a SAD e o clube. Claro que esperamos que este período não se alastre, porque existem obrigações da SAD para o clube e do clube para a SAD e se estas obrigações romperem não haverá perspectiva de progresso.

Como assim?

Existe um protocolo, com obrigações de parte a parte. A SAD tem de cumpri-lo, mas o clube não pode esquecer que é também accionista e deve ser participante directo e activo na vida da empresa. As obrigações da SAD perante o clube devem recair em cima de duas entidades: a DS Investment e o próprio clube, mas desde a criação da SAD que a DS Investment é a entidade sobre a qual recai 100% do investimento no orçamento da SAD.

O protocolo não tem sido cumprido?

Não nos recusamos a cumprir as obrigações que temos. Neste momento falta-nos pagar um mês da mensalidade que temos estabelecida com o clube, um valor que metade de Leiria já sabe qual é, apesar de ser sigiloso. Estamos, no entanto, a pensar numa forma de mudar e em vez de passar a verba para o clube, gastar esse valor com a formação: pagar aos treinadores e comprar o material necessário para o processo de treino. Ou seja, gastar o dinheiro em conformidade com as necessidades da academia.

O que é preciso, então, mudar na relação entre clube e SAD?

Gostaríamos que viessem rapidamente os tempos em que prevalecesse a compreensão e a harmonia. Respeito os princípios que existem entre os clubes e as SAD em Portugal mas, hoje, sou o investidor dos 100% do orçamento da SAD da União de Leiria. Quero dar mais à cidade e ao clube, mas não posso fazê-lo. Se me perguntar se as relações entre clube e SAD são ideais, não posso dizer que sim. Ainda não passou muito tempo para poder falar com o clube relativamente a construções de campos, academias e centros de treino, por exemplo. Hoje em dia não sou responsável pelo trabalho do clube e não sei o que se passa lá.

Acredita que essa harmonia pode chegar com Paulo Sarraipa, o actual presidente?

É difícil de dizer, porque passou pouco tempo. Estou ocupado com a reabilitação da SAD mas, para já, não sei como trabalhar com o clube.

No sábado vai haver uma Assembleia Geral do clube. Vai estar presente?

Quero estar para compreender quem e o que querem do clube. O clube não é um bolo e conduzi-lo é um trabalho difícil e de grande responsabilidade. Considero que só pode haver dois tipos de presidente: aquele rico que gosta de futebol e quer investir ou aquele que sabe como fazer o clube forte, competitivo e unir todos os adeptos. Se o Paulo Sarraipa é um destes dois tipos, ainda não sei.

Chegou a pensar candidatar-se a presidente do clube nas últimas eleições?

Durante a época passada houve conversas nesses sentido, mas com o processo em que fomos envolvidos perdeu-se a oportunidade. Falar nisso quando há um presidente não é correcto. Entendo, contudo, que é mais fácil haver qualidade na tomada de decisão e na vida de clube e SAD quando há um só presidente.

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