Sociedade

Cardeal António Marto alerta que conflito na Ucrânia pode trazer nova guerra fria

3 abr 2022 13:06

Bispo emérito fez a homilia da missa da 89.ª peregrinação da diocese de Leiria-Fátima ao Santuário da Cova da Iria

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Ricardo Graça/Arquivo
Redacção/Agência Lusa

O cardeal António Marto evocou hoje o “grito lancinante” de que o Papa Francisco “se faz eco”, referindo “a noite da guerra que caiu sobre a humanidade”, lembrando, em particular, o conflito na Ucrânia.

Para o bispo emérito de Leiria-Fátima, a situação na Ucrânia traz o “risco de se tornar uma guerra fria alargada que pode sufocar a vida de gerações e povos inteiros”, cita a Lusa.

“Não só de quem hoje habita a nossa terra, mas de quem virá depois de nós. Uma guerra louca, cruel, desumana, sacrílega em que são arrasadas cidades, são mortos milhares de inocentes e milhões de refugiados são obrigados a abandonar a sua terra, a sua casa, os seus bens”, afirmou na homilia da missa da 89.ª peregrinação da diocese de Leiria-Fátima ao Santuário da Cova da Iria.

António Marto presidiu à peregrinação de hoje, face à impossibilidade de o bispo titular da diocese, José Ornelas, estar presente, por estar infectado com Covid-19, em Roma, onde se deslocou para um encontro com o Papa.

Perante milhares de fiéis, António Marto recorreu às palavras do Papa Francisco na oração da consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, realizada no dia 25 de Março: “Perdemos a humanidade, malbaratamos a paz. Tornamo-nos capazes de toda a violência e destruição. (…) Por isso acolhe, ó Mãe, esta nossa súplica: liberta-nos da guerra, protege o mundo da ameaça nuclear. Rainha da paz, alcança a paz para o mundo”.

O bispo emérito de Leiria-Fátima recordou ainda a mensagem deixada em Fátima em 1917, “uma mensagem impressionante de advertência, para que a humanidade e a Igreja tomassem consciência da dimensão infernal da loucura do mal e do pecado na história e do seu poder devastador, aniquilador, que atingiu formas e proporções inéditas, inauditas e inimagináveis em duas grandes guerras mundiais. Uma mensagem para urgir a conversão, a mudança do coração humano e do rumo da humanidade”.

A homilia foi ainda aproveitada para, a partir do evangelho do dia, que narra a passagem da mulher adúltera, falar da misericórdia de Deus.

A Igreja “não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor entranhado que é a misericórdia de Deus”, disse António Marto, recorrendo a palavras do Papa Francisco.

“Se as pessoas se sentem condenadas à partida, nós não estamos a transmitir a mensagem evangélica. A misericórdia abre o nosso coração às necessidades e à miséria dos outros, aos problemas escondidos, ocultos, à pobreza material e a todo o sofrimento: de uma criança que sofre, de uma família em dificuldade, de um sem abrigo, de um jovem que não encontra sentido para a vida, de um idoso na solidão, esquecido e sem reconhecimento, de um refugiado sem apoio solidário”, afirmou.

Segundo António Marto, “quando a comunidade cristã acolhe as pessoas com delicadeza, as escuta com atenção, as ama como são, quando cura, reconcilia, anima e encoraja a viver a vida boa do evangelho, torna-se no que ela tem de mais luminoso: uma comunhão de amor, de compaixão, de consolação e perdão”.