Desporto
Começaram os dias felizes no tatami da Marinha Grande
Utentes da APPACDM experimentam projecto de judo inclusivo
Pedro Miguel, de 46 anos, já praticou futebol, natação e basquetebol, e vai agora estrear-se no judo. Está ciente de que a modalidade envolve muitas regras, mas acha que a nova experiência vai ser “fácil” e mal pode esperar para lutar “com todos” os amigos. Quanto a Pedro Duarte, de 22 anos, mal pisou o tatami e diz já estar “um bocadinho cansado”.
Eles são dois dos vários utentes da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) da Marinha Grande que se envolveram numa iniciativa pioneira ao nível do judo adaptado e que arrancou na passada quinta-feira, no Judo Clube da Marinha Grande.
Uma vez por semana, entre as 14 e as 16 horas, os utentes da APPACDM daquele concelho juntam- se a todos os membros da comunidade que estejam dispostos a lutar pelo bem-estar físico e pela inclusão social. No âmbito do projecto Judo4all, a iniciativa chama- se Hajime - Happy Day’s e remete para o iniciar (hajime, em japonês) do dia feliz e conta, como padrinhos, com Nuno Saraiva, judoca olímpico da Marinha Grande, bem como Miguel Vieira e Djibril Iafa, ambos atletas paralímpicos.
Assim, além de aulas de judo adaptado, exclusivas para os utentes da instituição, pretende-se envolver outros judocas neste programa de interacção, onde se propõe a realização de treinos em simultâneo de utentes da APPACDM com os atletas do clube. As vantagens deste projecto são de âmbito social e desportivo, realça João Teixeira, professor de Educação Física e treinador neste clube da Marinha Grande. “O judo é para todos”, salienta o treinador, para quem “o importante é ter um parceiro, seja ele menino, menina, tenha ele mais ou menos facilidade” na forma como se move. “Existem princípios de respeito e outras regras que são muito rígidas, mas que são transversais” a todos os praticantes, defende o professor, que estende o convite de judo inclusivo a toda a população, desde empresários e seus colaboradores, aos estudantes das várias escolas do concelho.
Graça Sapinho, professora de História na Escola Secundária Prof. Acácio Calazans Duarte, valoriza todas as actividades que, como esta, “permitem interagir, aproximar, quebrar o gelo” e mudar mentalidades.
Já Rita Rodrigues, professora de Educação Física na mesma escola, enfatiza que o judo é um desporto de contacto que, além de inclusivo, é rico ao nível das questões motoras. Esta riqueza da modalidade é também verificada por Nuno Saraiva. Para o atleta, a partir do momento em que lutamos com alguém estamos a relacionarmos com essa pessoa. E mesmo que não exista comunicação verbal, o toque permite compreender quem é o adversário, “os seus medos e as suas crenças”.
Além do desporto
Por se tratar de um projecto que consideram ir “além da dimensão desportiva”, os promotores pretendem incrementar acções de monitorização dos referenciais antropométricos, dos hábitos alimentares dos participantes com a sua nutricionista, acrescenta Rui Rocha, presidente do JCMG.
“Porque encaramos que a proximidade com outras entidades é crucial no desenvolvimento de uma acção desta natureza, protocolizamos com a Unidade de Cuidados na Comunidade da Marinha Grande um acordo para o estudo da saúde desta população com referenciais que possam ser articulados com as famílias e os utentes.”