Sociedade

Investigador do Politécnico em estudo publicado na "Nature" sobre o impacto da pesca nos tubarões

10 jul 2021 14:50

Investigação entrou na secção "Matters Arising" da revista científica

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Estudo focou o impacto da pesca no número de tubarões
Alex Rose@Unsplash

André Afonso, investigador do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, do Politécnico de Leiria, integra uma equipa de especialistas que publicou na secção "Matters Arising", da revista Nature, dois artigos sobre o impacto da pesca na sustentabilidade de diversas espécies de tubarões. 

Os artigos podem ser lidos AQUI e AQUI.

Segundo uma nota do Politécnico de Leiria, estas publicações surgem no seguimento de outro artigo publicado em 2019.

Após esse primeiro trabalho, a equipa de especialistas foi desafiada a testar e validar alguns dos pressupostos do documento original.

“A nova investigação foi conduzida com sucesso ao longo do último ano e as duas respostas aos questionamentos, que levaram a um maior desenvolvimento do trabalho original, foram agora publicadas na revista Nature.” 

O trabalho desenvolvido em 2019 concluiu que cerca de um quarto dos habitats dos tubarões estavam em zonas de pesca cativa, o que ameaçava grandemente estes animais, cujas populações têm vindo a declinar em todo o mundo.

A investigação recorreu a métodos de telemetria via satélite e estimou a sobreposição espacial dessas espécies com a distribuição e tipo de actividade pesqueira, que foi calculada através dos dados de AIS - Automatic Identification System, obrigatoriamente presente nas embarcações para a sua geolocalização. 

“As principais questões levantadas pelos autores que originaram estes dois novos artigos prenderam-se, em primeiro lugar, com o facto de a susceptibilidade dos tubarões à pesca não poder ser inferida somente pela sobreposição espacial entre a distribuição de tubarões e a distribuição do esforço de pesca, e em segundo lugar pelo facto de os algoritmos informáticos que processam os dados de AIS fornecidos pelas embarcações e que identificam a actividade pesqueira não apresentarem um nível de precisão adequada, levando a que a actividade pesqueira seja erradamente classificada em algumas situações.”

Os investigadores concluiram que se verifica uma correspondência directa significativa entre a captura por unidade de esforço de tubarões e as áreas com maior sobreposição espacial entre tubarões e esforço de pesca.

A reanálise dos dados utilizando dados de AIS mais recentes, disponibilizados após a publicação do trabalho original, resultou numa diminuição do tamanho das áreas de refúgio da pesca relativamente à estimativa inicial, indicando que os valores calculados no trabalho original estavam sobrestimados. 

“A utilização desses novos dados de AIS não alterou as estimativas iniciais de sobreposição espacial mensal (24%), e as simulações baseadas na eliminação aleatória de dados e na reclassificação aleatória da atividade pesqueira não alteraram os padrões descritos de sobreposição e susceptibilidade de tubarões relativamente à actividade pesqueira.”

“O acompanhamento da actividade piscatória em ambientes remotos é extremamente incipiente, pelo que os resultados apresentados fornecem-nos um panorama inédito e real sobre o actual nível de exposição dos tubarões oceânicos à pressão humana, contribuindo assim para o desenvolvimento de medidas de gestão que assegurem a conservação destes importantes predadores marinhos”, afirma o investigador André Afonso.