Opinião

Manuel Ferreira, um escritor de Leiria II

24 jul 2017 00:00

Na passagem do centenário do seu nascimento – 18 de Julho de 1917 – volto aqui no intuito de dar a conhecer alguns traços do autor de Hora di Bai como pessoa, como pedagogo, como homem das letras, da língua e da cultura.

Para isso socorri-me de testemunhos de quem o conheceu e de quem com ele tratou, bem como da última entrevista que deu, em Março de 1992, pouco antes de partir, ao ainda jovem escritor angolano Lopito Feijóo.

Uma sua aluna deu o seu testemunho desta forma: «Na cave da Faculdade de Letras de Lisboa, numa pequena sala, em pequeno grupo-turma, conheci o Professor Manuel Ferreira. Era um homem já entrado na idade e muito agradável. Tinha uma humanidade latente no seu olhar brilhante, na sua farta cabeleira branca… a sala ia-se impregnando do aroma doce do seu cachimbo. Conheci e fui discípula deste pioneiro, escritor e homem de letras. Com ele aprendi, fascinada, o tópico literário da africanidade, da tropicalidade e me apaixonei pelos “claridosos”.»

Nuno Rebocho escreveu sobre ele: «Quando, com parte da sua obra escrita, conheci o autor de Hora di Bai (o “africanista”, como era geralmente então apontado) nas mesas heterogéneas da desaparecida leitaria “Paço”, no lisboeta Rossio – onde abancavam, em volta de Armando Ventura Ferreira (o “patriarca”), escritores como Manuel da Fonseca, Palla e Carmo (Sesinando), Baptista Bastos, António Borga, Costa Mendes, Júlio Salgueiro, Hugo Beja, Fernando Grade, João Carreira Bom e muitos outros – Manuel Ferreira era um tanto menosprezado, por quanto entendiam, preconceituadamente, como “menores” as literaturas portuguesas de África, “donzelas” pelas quais ele galhardamente já se batia. (…) Só mais tarde, anos 70, Ferreira se tornaria no grande propulsionador dos estudos africanos na Universidade portuguesa e referência actual das literaturas africanas de língua portuguesa. (…) Pelo que é apressado e injusto julgar, em absoluto, qualquer indivíduo – ele pode sair da sua aparente concha e tornar-se gigantesco aos olhos do vulgo, ganhando um recanto da história. Manuel Ferreira foi nisto um caso exemplar.»

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*Professora