Sociedade

Mentes em sobressalto encontram lar nos Andrinos

27 out 2016 00:00

São 45 os doentes internados na vulgarmente conhecida como unidade de psiquiatria dos Andrinos. A maior parte tem este espaço como casa, onde muitos vivem há mais de 20 anos.

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Maria Anabela Silva

A alameda que 'rasga' a quinta onde funciona a unidade de psiquiatria dos Andrinos - hoje designada por Unidade de Internamento de Doentes de Evolução Prolongada (UIDEP) – conduz-nos à zona da antiga adega, onde estão a terminar obras de reabilitação do edifício.

É aí que, dentro de pouco tempo, nascerá um hospital de dia para doentes psiquiátricos agudos, que funcionará como uma resposta intermédia, entre o internamento no Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) e a alta.

A nova valência serve de pretexto para uma visita à unidade que, actualmente, acolhe 45 doentes, grande partedos quais internados há mais de 20 anos. “Alguns estão aqui há uma vida. Está é a casa deles”, diz Cláudio Laureano, director do Serviço de Psiquiatria do CHL e psiquiatra na unidade, referindo que os mais idosos não colocam, sequer, a hipótese de sair.

É o caso de R., o doente mais antigo da instituição, que leva mais de quatro décadas de internamento, ou de senhor P., que está nos Andrinos há mais de 30 anos.

À chegada à unidade, somos recebidos por 'Branquinha', uma rafeira que apareceu na quinta e que foi adoptada pelos doentes. “A cadelinha veio aqui internar-se”, brinca B., um dos utentes mais novos, que nos apresenta também o 'Pintas', filho de Branquinha.

“É muito bonito e ciumento”, revela o jovem, de 28 anos, com “passado mau”, ligado ao consumo de estupidificantes e ao excesso de álcool. “Quando a cabeça não tem juízo...”, admite, com um encolher de ombros, durante a visita do JORNAL DE LEIRIA à unidade que decorre, quase sempre, sob o seu olhar atento. B. fala-nos, com orgulho, da horta, onde os utentes, sob a coordenação do senhor A. - que, em tempos, foi agricultor -, cultivam legumes e hortícolas. Mostra-nos as couves, os pimentos e as alfaces recentemente plantadas e exibe as embalagens que, a seu pedido, a mãe lhe levou e onde serão colocadas mais sementes.

Manuela Feliciano, enfermeira- -chefe da unidade, explica que a horticultura é uma das actividades que usam como terapia, ajudando a “aliviar os níveis de stress” e a melhorar a concentração, a motricidade e, claro, a auto-estima.

“Ver crescer e colher o que plantam faz com que se sintam úteis”, diz a enfermeira, contando que os utentes são também incentivados a participar nas actividades de vida diária da instituição e na manutenção dos espaços, através de tarefas como preparar a louça para o pequeno-almoço ou varrer as folhas.

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