Viver

Palavra de Honra | Afinal, o progresso não é inevitável.

2 abr 2023 08:19

Rita Mota, professora universitária e investigadora

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- Já não há paciência ... para tanta impaciência. (Sim, tenho noção da natureza complicada desta afirmação, bem como da sua incoerência relativamente ao próximo parágrafo.)

Detesto... que as pessoas andem devagar no meio do caminho. Sobretudo em túneis do metro quando tenho pressa, ou em passeios estreitos que não permitem a ultrapassagem. Se calhar absorvi mais da cultura britânica do que pensava. Ou então tenho de apresentar queixa aos meus pais por me terem dado pernas compridas e bichos carpinteiros.

- A ideia... é continuar a ter ideias. Cultivá-las, testá-las, acarinhá-las, abandoná-las quando necessário, manter o espírito crítico e lutar contra a padronização do pensamento.

- Questiono-me se... “abertura fácil” é uma piada na maior parte das embalagens ou se a piada é a minha incapacidade de as abrir sem fazer asneira.

- Adoro... o catalão. Não esperava apaixonar-me tão loucamente por uma língua nova com esta idade, mas aconteceu. O que era fantástico era que o Duolingo me ensinasse a pedir um café ou a explicar que ainda não domino a língua, em vez de me ensinar a perguntar a alguém se já saiu da prisão ou a professar o meu amor por tartarugas azuis.

- Lembro-me tantas vezes... da importância de lembrar. Se todos nos dedicássemos um bocadinho mais a entender a história (a nossa e a do mundo), certamente não cometeríamos tantos erros (individuais e coletivos).

- Desejo secretamente... que apareça um vírus novo que mate a intolerância e que desfaça o medo da diferença. E que haja festivais para acelerar o contágio. Com música boa e copos reutilizáveis, claro.

- Tenho saudades... permanentes onde quer que esteja, porque tenho o coração espalhado pelo mundo fora, repartido entre pessoas e paisagens que fazem parte de mim e que nunca podem estar todas no mesmo sítio e ao mesmo tempo. São saudades boas. Sinais de sorte, de amor e de vida.

- O medo que tive... quando dei conta que não podia dar como adquiridas as vitórias do movimento pela igualdade de género. Tive e tenho. Afinal, o progresso não é inevitável. Oxalá a resistência seja.

- Sinto vergonha alheia... quando alguém é ofensivo por ignorância e se recusa a aprender.

- O futuro... não pode ser imaginado apenas em termos de distopia. Vamos lá dar um descanso aos livros, filmes e séries sobre o fim do mundo e começar a dedicar mais criatividade, tempo e energia à utopia. Ao contrário do que dizia Margaret Thatcher, há alternativas. Só temos de as imaginar.

- Se eu encontrar... livros de Vergílio Ferreira traduzidos para inglês, vou oferecê-los como prenda de anos e Natal a todos os meus amigos que não falam português ... durante um ano (ou dez).

- Prometo... que nunca vou fazer promessas que não tenciono cumprir. (Sim, a dos livros é muito a sério.)

- Tenho orgulho... nas crianças e jovens que, perante a irresponsabilidade e inércia dos mais velhos, não hesitam em fazer-se ativistas e lutar por um mundo melhor. Não deviam ter de o fazer... mas isso é outra história.