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Palavra de Honra | Já não há paciência para todos aqueles que estão absolutamente convencidos de estarem absolutamente certos

27 nov 2022 11:22

Alina Mansukhlal, modelo e estudante de filosofia

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Já não há paciência... para os populistas, para os intolerantes, os que se dizem anti conformistas; nem para os moralistas, os politicamente corretos, e os paternalistas. Enfim, para todos aqueles que estão absolutamente convencidos de estarem absolutamente certos.
 
Detesto... fundamentalistas, pessoas que falam ao telemóvel nos transportes públicos e puré de batata - por nenhuma ordem em particular.
 
ideia... do amor platónico faz-me comichão. Não sei quem a inventou, mas não foi Platão.
 
Questiono-me se... as pessoas que dizem "é que eu sou muito direta/o" depois de serem muito brutas, sabem que na verdade são só bestas mal educadas. E se as pessoas que dizem "sem ofensa" depois de ofenderem sabem que podiam ter estado caladas.
 
Adoro... ir ao cinema sozinha, começar um livro novo, beber copos e petiscar em boa companhia, falar com o meu psicólogo às sextas à tarde, receber bilhetinhos com mensagens queridas, dias de Outono frios mas solarengos... mas adoro ainda mais ter razão.
 
Lembro-me tantas vezes... de fechar a porta de casa às chaves, mas às vezes esqueço-me. 
 
Desejo secretamente... que as pessoas que fumam nas paragens de autocarro de manhã se engasguem com a própria saliva 3 vezes por dia, sem terem água por perto.
 
Tenho saudades... dos meus pais, das migas que se fazem em Leiria e da morcela de arroz, do gato que vivia na primeira casa em que morei aqui em Turim, do meu quarto em Lisboa, do senhor Rogério que conduzia o autocarro que me levou à escola em Fátima durante 8 anos da minha vida (e que esperava por mim quando me atrasava).
 
O medo... que eu tive quando a meio da noite o meu namorado me acordou e disse "preciso de te dizer uma coisa". (Afinal só não conseguia dormir porque pensava que tínhamos um rato à solta em casa. Podia tê-lo dito logo, mas escolheu fazer suspense e eu que por uns segundos achei que ele ia terminar a nossa relação assim, a meio da noite, de pijama). 
 
Sinto vergonha alheia... ia responder "de nada nem ninguém" mas depois lembrei-me que há pessoas que nunca viram ou leram o Senhor dos Anéis (ou qualquer outra obra do Tolkien).
 
O futuro... é depois, é amanhã, é daqui a bocado, daqui a um mês, dois, ou três, daqui a um ano ou um século. Eu e o futuro nunca estaremos no mesmo sítio, ao mesmo tempo. Eu estou aqui e ele está sempre ali. Não acho que ele pense muito em mim, por isso tento não pensar muito nele. Tento.
 
Se eu encontrar... o sentido da vida, provavelmente vou olhar à minha volta e perguntar "quem é que deixou cair isto?"
 
Prometo... deixar-me de merdas e escrever a tese para acabar este mestrado. Depois, prometo deixar as outras merdas que tornam tudo aquilo que faço numa luta constante entre a vontade de fazer e o medo de não fazer bem.
 
Tenho orgulho... em mim. Estou a brincar, ainda agora disse que tenho de trabalhar nisso... Mas tenho orgulho em pedacinhos de mim. De resto, vai-se andando.