Viver
Palavra de Honra | O futuro faz-me pensar em caniches a correr atrás da própria cauda
Raquel Oliveira Martins, criativa
- Já não há paciência ... Para indivíduos extremamente individuais que sabem coisas em letras maiúsculas e defendem causas extraordinariamente importantes enquanto bebem batidos com bagas goji e abraçam árvores para a câmara do telemóvel. O algoritmo baralha-se muito, hoje em dia, no que toca à #tolerância.
- Detesto... Horários. Guerras, apocalipse e alterações climáticas é na boa, agora despertadores com hora marcada faz acordar em mim o pior lado do meu mau feitio activista. Também detesto a palavra detestar. Tentar gostar dá mais trabalho mas acaba por ter mais utilidade.
- A ideia... ponto. A ideia, normalmente escrita em maiúsculas, é uma coisa que me pedem muito para ter e até me pagam para fazer justamente isso. De resto, passo tanto tempo a ter ideias e a escrever sobre a vida dos outros que chego a pensar que a minha própria vida é patrocinada por uma marca qualquer. Do género: Raquel, powered by Nespresso. Lá chegaremos todos.
- Questiono-me se... no dia em que chegar a minha hora e me sentar na poltrona do purgatório a passar a minha vida a pente fino, não encontrarei alguém vagamente parecido com o Nuno Eiró que me vai dizer: “epá, isto era para os apanhados!” E depois ri-se muito e dá-me palmadinhas nas costas ao som de um jingle de livraria musical.
- Adoro... Pão com manteiga. De resto, costumo usar esta interessantíssima característica pessoal para dizer que dou valor a coisas simples. Ou isso ou
tenho um gosto secreto pela poesia das canções do Tino de Rans. Agora que penso nisso, esta última valida a teoria. É um facto. Sou uma pessoa simples inclusive ao nível de rimas e cancioneiro.
- Lembro-me tantas vezes... de provérbios. O meu preferido é: Mais vale rico e com saúde do que pobre e doente. E acho que isto diz tudo.
- Desejo secretamente... receber um e-mail do Estado com o seguinte conteúdo: Caro contribuinte, o seu processo foi reavaliado e, na verdade, quem lhe deve uma quantia ridícula de impostos somos nós a si, só pelo facto de existir tal como é. Vá lá à sua vida descansada que a partir daqui tratamos nós. E desta vez tratamos mesmo. Melhores cumprimentos.
- Tenho saudades... do meu pai. Na verdade, não tenho muito mais a dizer sobre isto mas decidi continuar a juntar letras que formam palavras porque depois pensei que ficava aqui um espaço em branco e eu sofro muito por antecipação.
- O medo que tive... já disse que sofro muito por antecipação. O que é querem mais de mim? Na verdade, tive medo de não chegar ao fim deste questionário sem entrar numa crise existencial.
- Sinto vergonha alheia... sempre que ouço uma frase começada por “como eu costumo dizer...” Normalmente, o conteúdo que sucede a introdução não justifica a auto citação. “Eu sou uma pessoa que...” também gosto de ouvir e resulta quase sempre num monólogo de pelo menos 25 minutos.
- O futuro... é fugidio e faz-me pensar em caniches a correr atrás da própria cauda. Fora isto, não sei adiantar mais nada porque nunca estive no mesmo sítio que o visado e, “como eu costumo dizer” não se fala atrás das costas nem daquilo que não se sabe.
- Se eu encontrar... o Mark Zuckerberg pergunto-lhe como é que ele faz em casa e mando-o fazer a cama. Não suporto pessoas que desarrumam as coisas e não voltam a pô-las no sítio.
- Prometo... que é desta que vou cumprir tudo aquilo que prometi. A menos que venha a sofrer de amnésia. Nesse caso, posso entrar em incumprimento mas a culpa não é minha.
- Tenho orgulho... em não ser ditadora. Ri-te, ri-te. Anda para aí uma linha muito ténue no que a este assunto diz respeito e eu “sou uma pessoa que” tenta dar valor às coisas enquanto as tem.