Economia

Sindicato denuncia casos de exploração de imigrantes em hotéis de Óbidos

12 jul 2023 16:46

Haverá cerca de 30 pessoas a viver numa casa e a serem transportados em carrinhas de casa para o trabalho, sem contactarem com mais ninguém

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Trabalhadores não recebem valores a que têm direito pelo contrato colectivo de trabalho, denuncia sindicato
Ricardo Graça/Arquivo

Trabalhadores imigrantes, sobretudo asiáticos, estarão a ser explorados em hotéis de Óbidos. Além de se desconhecer se terão contratado de trabalho, cerca de 30 pessoas estarão a viver numa casa "em condições desumanas". “Muitos só trabalham à noite, são transportados em carrinhas do local de residência para o local de trabalho para que não tenham contacto com mais ninguém e nem sabemos se estão legalizados no país. Não falam português e nem têm recibo de vencimento”, denuncia António Baião, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro.

Segundo o dirigente sindical, “para alguns destes trabalhadores enviar para os seus países de origem 200 ou 300 euros por mês, é uma fortuna, e, por isso, aguentam tudo”.

António Baião, juntamente com o representante sindical do distrito de Leiria, Gerné Martins, estiveram hoje em Leiria e em Fátima, no distrito de Santarém. Também neste destino turístico religioso, os sindicalistas confrontaram-se com situações de exploração de trabalhadores.

Em Fátima, “onde há uma grande comunidade brasileira, há trabalhadores a serem explorados”. “Na restauração há patrões que pagam o salário ao dia 10 ou 15 do mês, em prestações. Os trabalhadores disseram-nos: ‘isto faz com que nos sintamos presos, porque temos necessidade de receber o resto do dinheiro e não saímos da empresa’. É uma "prisão" diferente, mas os trabalhadores sentem que são explorados em horários completamente desregulados e com o salário pago tarde e a más horas”, afirma António Baião.

Cerca de mil trabalhadores em Fátima constantam o incumprimento com o contrato colectivo de trabalho.

O Sindicato anuncia que irá “enviar uma missiva a Sua Santidade o Papa” para que nesta visita a Portugal na Jornada Mundial da Juventude “possa também tomar em conta esta situação que se vive no sector”.

“Todos os peregrinos são bem tratados em termos de restauração e hotelaria, mas os trabalhadores que os servem principescamente são explorados todos os dias no destino turístico de Fátima. Vamos fazer participação à ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho] e à senhora ministra do Trabalho”, revelou.

António Baião adiantou que será uma quinzena de luta, que terminará com uma greve agendada para o dia 28 de julho, com concentração junto à secretaria de Estado do Turismo. “Iremos falar com o secretário de Estado do Turismo para colocar as nossas razões por que é que há falta de trabalhadores no setor”, disse o dirigente sindical.

Os dirigentes vão visitar as unidades principais nos concelhos de Alcobaça, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos e Peniche para reunir com os trabalhadores do sector.

Esta acção surge no âmbito de uma campanha que o sindicato está a realizar a nível nacional, que pretende esclarecer a ideia que os patrões "estão a querer passar para a sociedade em geral, mas muito em concreto para o Governo, de que há falta de mão-de-obra no sector e que há necessidade de aligeirar as medidas que possam levar à vinda de trabalhadores estrangeiros para o País”.

Para o sindicalista, os principais factores que afastam trabalhadores do sector são os baixos salários e os horários praticados, que impedem os trabalhadores de terem vida própria.

António Baião defende que os trabalhadores deverão ser pagos a 200% aos feriados, receber um acréscimo de 50% no salário aos fins de semana e à noite, garantir dois dias de descanso semanal seguidos e um fim-de-semana por mês.

Além destas reivindicações, o dirigente sindical entende ainda que para fixar pessoas no sector é necessário garantir 35 horas para todos e o combate à desregulação dos horários, criar um regime de diuturnidades e a integração no quadro de todos os trabalhadores precários.