Sociedade

Surda cria actividades e jogos didácticos em Língua Gestual

14 set 2024 14:32

Mónica Gomes recorre a materiais reciclados para fazer jogos didácticos. É também uma forma de promover a sustentabilidade

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Mónica Gomes quer contribuir para que as crianças surdas tenham acesso a recursos educativos "de qualidade"
DR

Surda desde os 20 anos, na sequência de um incidente com uns auscultadores, Mónica Gomes acabou por tornar esta adversidade num desafio que, mais recentemente, se transformou numa missão: a de promover a Língua Gestual Portuguesa (LGP), através da criação de jogos e de actividades didácticas, com recurso a material reciclado.

São disso exemplo os tradicionais jogos de memória e da glória que fez utilizando números e gestos da LGP, bem como de uma roda dos animais ou de um aquário em língua gestual. O objectivo, explica, é demonstrar que é possível “criar ferramentas educativas e valiosas, promovendo a sustentabilidade e a inclusão de crianças surdas e ouvintes”.

O trabalho de Mónica Gomes, de 36 anos, surgiu no seguimento da licenciatura que fez em LGP na Escola Superior de Educação de Coimbra, onde ingressou depois de ficar surda, e da constatação da necessidade “premente” de recursos educativos especícos nas escolas.

“Enquanto existem manuais e jogos em Português e Inglês, a oferta em LGP é praticamente inexistente. Cada professor de LGP tem de criar os seus próprios materiais, o que é extremamente trabalhoso”, relata. Perante essa realidade, Mónica Gomes pôs mãos à obra e decidiu criar esses materiais para “ajudar os professores e garantir que as crianças surdas têm acesso a recursos educativos de qualidade, alinhados com as temáticas” abordadas nas aulas.

Esses materiais vão sendo distribuídos nas escolas por onde vai passando e partilhados com os pais, num processo de “disseminação” que Mónica, residente em Idanha-a-Nova, gostaria que chegasse a todo o País, “a bem da inclusão”.

“Há ainda um longo caminho a percorrer para que as escolas estejam verdadeiramente preparadas para lidar com as necessidades” dos alunos surdos. Pelo que, defende, é preciso “sensibilizar o Governo para a necessidade de disponibilizar mais materiais de apoio em LGP nas escolas, como acontece com outras disciplinas”.