Uma obra de arte chamada São Bento

Localizada no ponto central do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), a freguesia e a natureza são as principais protagonistas da história contada no filme que tem o título Deixe-se perder & explore São Bento - Descubra os jardins de pedra de um povo de beleza rara.

Simultaneamente, delicada e frágil, tal como as plantas raras do parque natural, este é um território robusto e inscrito nas lajes que ladeiam caminhos, pastagens, terrenos agrícolas, marcado pela sazonalidade da actividade humana, desde há séculos.

Toda a narrativa deste filme tem como ponto de partida São Bento. A ida à igreja ao domingo, o lazer e os cenários de fazer perder o fôlego, enquadrados na área protegida, a par da ruralidade e da simplicidade do quotidiano.

Além de ser um verdadeiro postal ilustrado da vida local no final da segunda década do século XXI, este vídeo que não deixa ninguém indiferente, é, igualmente, um "adeus" da equipa da Junta de Freguesia, formada por eleitos independentes e que cumpriu dois mandatos (2009-2017), ao serviço da população.

É, porém, mais do que isso, é igualmente um "olá" aos muitos potenciais visitantes à freguesia, atraídos pelos cenários de beleza natural, espaços livres serranos e natureza pura.

"A equipa da Junta de Freguesia é composta de muito boa gente, com sentido de pertença e valorização do seu território e, ao mesmo tempo, com um grande sentido cultural apurado. Queriam algo que fosse, simultaneamente inovador, artístico e que causasse emotividade e despertasse interesse a quem o via. Fixaram-nos entre as condições obrigatórias, alguns pontos que são os ex libris da zona. A outra condição que tínhamos de satisfazer foi colocada por uma das senhoras do Executivo, que nos explicou que pretendia voltar a ficar arrepiada, como quando viu o filme Leiria - Retrato em Movimento, também criado por nós", explica Nuno Gertrudes, gerente da Rebrand4web, empresa de Leiria detentora da marca Escolha Local, que concebeu, realizou e editou o filme sobre aquele território de excepção.

Fora destas condições, a equipa do Escolha Local ficou com total liberdade criativa e o resultado não se fez esperar.

Projecto ambicioso

Nuno Gertrudes e Shahab Gabriel Behzumi, um dos mais reconhecidos pioneiros da técnica de hyperlapse, chamaram a si a responsabilidade de criar um guião inovador, que concretizasse todas as expectativas do Executivo da Junta e lhes permitisse incluir o seu cunho e visão pessoais.

Inicialmente, consideraram incluir apenas 11 sequências feitas com recurso à técnica de hyperlapse, que seriam misturadas com vídeo, mas, inspirado pela paisagem e pelas gentes locais, Shahab preferiu enveredar por um projecto mais audacioso e trabalhoso e Nuno seguiu-o nesse intento.

Palmilharam, de lés-a-lés, o PNSAC e os limites da freguesia. Foram a terrenos privados e baldios, e recolheram inúmeras sequências e milhares de imagens. "Aproveitámos metade porque se as usássemos todas, o filme seria muito maior e corria o risco de se tornar aborrecido", admitem. Não obstante, o resultado, afiança Gertrudes, foi uma “obra de arte” fílmica de uma beleza ímpar.

A provar a aceitação do público, neste momento, o filme conta com dezenas de milhares de visualizações e, todos os dias, os números sobem. "Há gente que comenta nas redes sociais e diz que, após ter visto as imagens, tem vontade de largar o que está a fazer e ir a São Bento conhecer, pessoalmente, a freguesia."

Todo o trabalho de fotografia demorou cerca de quatro semanas, entre Abril e Maio de 2017. "Só podíamos ir nos dias onde havia sol e céu azul e, após isso, tivemos de despender mais dois meses de produção e pós-produção para acertar cores, planos e movimentos."

E não se pense que a técnica de hyperlapse se limita a pegar numa câmara e disparar fotografias para depois as juntar num filme. O trabalho é duro e de minúcia científica. Por vezes, para conseguir apenas cinco segundos de vídeo, é preciso filmar dias inteiros e noites, sem intervalos para sequer ir à casa-de-banho.

"No plano do quintal, que dá uma volta no céu estrelado, e regressa ao ponto de origem, começámos às 16:30 horas e acabámos às 3 horas da manhã. O resultado são apenas 15 segundos de vídeo. Pretendíamos fazer um superzoom entre as pedras e depois rodar a câmara para o céu nocturno, rodá-la novamente e apontar ao local onde começámos a fotografar", exemplifica Nuno Gertrudes.

O plano descrito foi feito de uma só vez, mas há outros que resultam de uma sucessão de dias diferentes. Foi o que aconteceu com o da igreja de São Bento, por exemplo, que obrigou a um grande trabalho de preparação antes de se começar a captar imagens. Acertar o plano é o mais crucial. A objectiva tem de focar e enquadrar exactamente o mesmo ponto da última fotografia do dia anterior, para se reiniciar o movimento e concluir o plano programado.

O Escolha Local especializou-se nesta técnica, tendo criado o vídeo viral Leiria - Retrato em Movimento, no ano passado. É a única a oferecer esta oferta diferenciada, na realização de filmes promocionais, de territórios e cidades, além de também gerir a sua promoção nas redes sociais e ao nível do marketing digital.

Os planos mais complexos

A equipa que executou o vídeo elege como o mais complexo dos planos, não só pela dificuldade técnica, mas igualmente pelas condições adversas, aquele cujo cenário é uma casina, ou antigo abrigo em pedra dos pastores da Serra dos Candeeiros. "Por volta das duas da manhã estávamos a captar o céu nocturno, a montar luz artificial, sempre sob um frio que nos enregelava corpo e alma. Para dificultar, o terreno era muito, muito acidentado. Para fazer 300 fotografias, demorámos mais de três horas. A casina ali ao lado, meio arruinada servia para abrigar os pastores do frio, mas nós tivemos de o suportar para conseguir concretizar a tarefa. Custou-nos muito e o cansaço acabou por ditar o momento em que terminámos."

Outro plano complexo foi a praia jurássica. Foi traçado um percurso com 300 metros até a alguns dos mais belos fósseis que ali podem ser admirados. "O tripé teve de ser rodado várias vezes para se conseguir o máximo de nitidez, com a ideia do movimento. Não foi feita rotação alguma na pós-produção", revela Gertrudes. As imagens ali captadas tiveram depois de ser tratadas para corrigir as diferenças de luz, resultantes da incidência do sol naquele planalto. Havia registos de luminosidade com grandes diferenças e foi preciso trabalhar minuciosamente cada um dos frames.

Na edição final, foi adicionado o texto que se pode ouvir em voz off e que é da autoria de Patrícia Santos, autora natural de São Bento, que, com ele, venceu um concurso literário local há alguns anos. São palavras que despertam a emotividade e os sentimentos de proximidade para com o povo e o território.