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Visionários, os espectadores que são programadores culturais
Candidatura | Em Pombal, os Visionários, grupo de cidadãos de variadas origens e idades, têm a responsabilidade de escolher a programação do Teatro-cine, entre Setembro e Novembro. A experiência, motivadora de cidadania activa, tem recebido elogios e é candidata ao Prémio Cidades Educadora
Dança, espectáculos para bebés e famílias ou música, as escolhas de quem tem de criar uma programação cultural para uma cidade ou concelho é sempre difícil e obriga a um equilíbrio.
Um balancear constante entre o gosto de muitos, que pode não assentar em exclusivo na definição mais restrita daquilo que é cultura, juntando-lhe uns gramas de animação popular, e o das minorias mais puristas.
A crítica do público é omnipresente e nem sempre agradável de escutar.
Em Pombal, entregou-se nas mãos dos Visionários, um grupo de cidadãos de variadas origens e idades, todos voluntários, a responsabilidade de escolher alguns dos espectáculos que passam pelo Teatro-cine, durante o festival Manobras, organizado entre Setembro e Outubro, com o selo da Artemrede, e no Dia do Espectador, em Novembro.
A experiência é promovida pela Unidade de Cultura – Teatro-cine, e as escolhas são feitas a partir de uma bolsa de espectáculos propostos pela rede cultural, embora a autarquia abra a possibilidade de se apresentarem outras propostas.
A experiência está a resultar tão bem que outras cidades que fazem parte da Artemrede já têm ou estão a criar os seus próprios grupos de Visionários.
Além disso, a Câmara de Pombal vai candidatar o projecto - Visionários – de espectadores a programadores - ao Prémio Cidades Educadoras, no âmbito do Congresso Internacional da Associação Internacional das Cidades Educadoras, que se realizará de 30 de Setembro a 2 de Outubro, na Polónia.
Calçar os sapatos dos outros
Como o relógio não pára, o grupo de cidadãos-programadores de Pombal vai iniciar reuniões para a discussão das propostas para o Festival Manobras e Dia do Espectador, onde lhe caberá a criação da programação cultural de um dia, na cidade.
A maior dificuldade, reconhece Nuno Oliveira, um dos “visionários”, que também toma parte no programa Espectador Activo, é a necessidade de se colocarem no papel do "outro" e ter de escolher não em função dos gostos pessoais, mas de acordo com o que os outros poderão apreciar.
Para transformar espectadores em programadores, foi necessário impelir uma mudança na participação, envolver e dar responsabilidades à comunidade, na vida cultural do território onde está inserida.
Isabel Moio, outra das “visionárias”, explica que “colocar-nos na posição de programadores leva-nos a perspectivar as coisas de forma diferente. “Leva a perguntar ‘para quem?’ - público-alvo -, ‘o quê?’ - tipo de peça -, ‘com quanto?’”.
A cidadã-programadora refere que os valores acabam por estar sempre presentes e é sempre desafiante fazer a melhor selecção possível tendo em conta os custos inerentes.
“Colocamos de lado o ‘não sou muito apreciadora deste tipo de peça’, para nos centrarmos na diversidade e proporcionarmos diferentes oportunidades culturais à comunidade. Pegando numa analogia, é tal como as comidas: se comermos sempre a mesma iguaria, desconhecemos outros sabores e, por vezes, a primeira vez que provamos até pode não ser bem o que esperávamos, mas à segunda corre melhor.”
Com a cultura é o mesmo, entende e sublinha que é importante conhecer, provar e arriscar. “E se pode estar nas nossas mãos um pouco da oferta cultural da cidade, procuramos escolher e servir cardápios diferentes.”
Por tudo isto, o Visionários assenta na proposta de um modelo de aproximação entre espectadores, artistas e instituições culturais, através de uma plataforma de debate que fomenta a transferência do poder de escolha para o espectador, para que este se liberte de um papel, tradicionalmente passivo, para participar de modo activo na escolha da programação cultural de um espaço.
No caso de Pombal, no Teatro-cine local. “Pretende-se com o projecto, trabalhar com grupos de espectadores que se convertem em programadores de um equipamento cultural, dando-lhes o poder de se exprimir e de decidirem em contexto de grupo, havendo uma responsabilidade individual que é, simultaneamente, comum”, explica Sónia Fernandes, técnica superior de animação da autarquia.
Mas Nuno admite, contudo, que há sempre discussão. “Raramente as escolhas são unânimes. “Reunimos várias vezes para analisar as propostas e decidir o que vamos escolher.”
E os gostos pessoais colidem. Porque as pessoas são de variadas origens e têm gostos diferentes.
“Há visionários com 20 e outros com 60 anos. Há quem goste mais de música ou de teatro, mas estamos sempre muito abertos a outras expressões artísticas, como a dança que é raro de se ver por aqui.”
Foi, precisamente, esta disciplina artística que mostrou a capacidade de escolha de vertentes criativas menos comuns, com um intuito pedagógico e de divulgação cultural.
“No ano passado, fizemos questão de trazer um espectáculo de dança, Pássaro de Fogo, da Companhia Marina Popova, para ver o que dava, e a sala esteve quase cheia. O público adorou”, recorda o visionário que é um dos mais (re)conhecidos cinéfilos de Pombal e que teve de adaptar a sua paixão à 7.ª arte a outros tipos de expressão fílmica.
“Adoro cinema, mas não há cinema propriamente dito nas propostas que analisamos, pelo que, gosto de qualquer outra forma de arte que me desafie. Tanto faz ser música, dança, teatro ou novo circo.”
Por acaso, no ano passado, até houve programação relacionada com cinema. Foi Isto é um filme de baixa frequência, uma espécie de documentário filmado ao vivo.
Reacções dos pombalenses
Os cidadãos-programadores acreditam que o interesse tem vindo a crescer desde que o grupo reuniu pela primeira vez em Novembro de 2017, no âmbito do projecto europeu Be SpectACTive. Eram 14, agora são 18 elementos.
“É perceptível até pelo número de novos visionários com interesse em integrar o projecto - diferentes faixas etá
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