Opinião

A banalidade do mal

28 jul 2016 00:00

Matam-se pessoas inocentes em nome de um qualquer Deus sanguinário e em obediência cega a princípios que os executadores nem sequer questionaram.

Hannah Arendt (1906-1975), filósofa política judia de origem alemã, fez para a revista The New Yorker a cobertura do julgamento de Adolf Eichmann que se iniciou em Jerusalém a 11 de Abril de 1965.

Após o julgamento, reuniu os cinco artigos que escrevera para aquela revista e publicou um livro que intitulou Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal.

Vem esta pequena introdução a propósito do nosso confronto diário com os múltiplos e sucessivos ataques terroristas como se de algo banal se tratasse. Estes ataques são transmitidos pelos vários canais de televisão que nos oferecem em directo e repetitivamente o espectáculo do horror e da morte, assim também os banalizando. Não é este o lugar próprio para se proceder a uma análise do conceito de “banalidade do mal” tal como Hannah Arendt o formulou. Penso, no entanto, ser adequado utilizá-lo na análise da situação com que actualmente nos confrontamos.

Matam-se pessoas inocentes em nome de um qualquer Deus sanguinário e em obediência cega a princípios que os executadores nem sequer questionaram. O Mal existe, não forçosamente nas pessoas que o praticam mas indubitavelmente nos sistemas e pseudo ideologias que o “justificam” e promovem. Mas não é esta a única origem do terror com que, diariamente, nos deparamos.

Alguns dos últimos atentados (Nice, Wurzburgo, Munique...) foram executados por actores solitários, não sendo possível estabelecer qualquer ligação directa ao auto denominado Estado Islâmico. O que pode, então, explicar estes actos isolados, de pura barbárie, onde os próprios executadores sabem de antemão que vão, também eles, morrer?

*Advogada
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