Opinião
A Covid-19 não trabalha ao fim de semana?
Quando se comparam as praias do Algarve com o que se passou nas praias britânicas, por que não reagir?
Meu caro Zé,
Não te assustes com o título, mas ele foi-me sugerido por uma entrevista que vi ontem (dia 3 de julho) na televisão, com um desassombrado médico pneumologista que, perante uma pergunta do apresentador (a que o médico logo reagiu, comentando por que é que ninguém lhe tinha feito ainda essa pergunta) esclareceu, mostrando os “célebres” gráficos com “picos” nos fins de semana, que os testes ao fim de semana quase não se realizavam.
Decidi, durante todo este tempo que tem durado a pandemia, apesar dos dados preocupantes que ia registando (e, a certa altura, deixei de registar porque as séries estatísticas foram “corrigidas”!), não por em causa a política seguida, porque o fundamental era atuarem em conjunto, criar confiança e não alarme, salientar o bem e tentar melhorar o que está mal, mas sem alardes de discordância e muito menos de crítica frontal.
Mas os recentes acontecimentos, de que a notícia que atrás apresento é apenas um dos indícios, não me permitem calar mais a minha profunda deceção pelas políticas seguidas e pelos comportamentos dos principais “atores” (e o nome é apropriado).
Quando um dos mais importantes membros do partido do Governo, e presidente de Câmara Municipal do Governo, contesta veementemente a política seguida, quando as informações sobre a evolução da pandemia em Portugal são cada vez mais avulsas e os dados se agravam, e, “cereja em cima do bolo”, o Reino Unido, com o descalabro que a todos mostrou, se permite discriminar Portugal no que toca às condições de acesso de passageiros por via aérea, com uma débil ou inexistente reação diplomática do Governo português face ao nosso mais velho aliado (embora este “aliado” se tenha mostrado pouco fiável ao longo da história, desde o chá da rainha Catarina de Bragança, até ao “mapa cor de rosa”, só para exemplificar), algo vai, de facto, muito mal e tem de ser corrigido, já sem medo de perdas eleitorais.
O País assim o exige, como o mostrou no início da pandemia, antecipando-se às decisões do Governo, se é que o não arrastou para elas.
Quando se comparam as praias do Algarve com o que se passou nas praias britânicas, por que não reagir?
O ministro dos Negócios Estrageiros limitou-se a lamentar e a afirmar (como a ministra da Saúde), que a decisão era errada. E pronto?
Ou, de facto, a situação em Portugal não é assim tão defensável e o Governo sabe disso (nós sabemos pelo ritmo da evolução, e não pelo “stock” - a acumulação histórica - de casos registados)?
Olha Zé, tenhamos todos, indivíduos, famílias, empresas e grupos sociais, a consciência que temos de ser nós a reagir como o fizemos no início da pandemia, para que não aconteça algo que conseguimos evitar de início.
Até sempre,
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990