Opinião

A pandemia mudou as regras do trabalho

25 abr 2022 15:45

Há muitas razões para a falta de respostas a ofertas de emprego

Todos os empregadores se queixam que falta gente para trabalhar nas suas empresas, em particular pessoal especializado, desde soldadores até especialistas de sistemas e tecnologias de informação.

Várias explicações simplistas são avançadas, desde a simples falta de vontade de trabalhar, até à existência de prestações sociais por parte do Estado, nomeadamente o subsídio de desemprego, que desencorajam o emprego.

Em alguns casos poderá ser verdade, correspondendo a uma decisão racional do trabalhador se ganhar o salário mínimo ou perto disso.

Nestes casos, o valor do subsídio com o rendimento de alguns biscates por fora ultrapassa o que ganharia se aceitasse um emprego pelo valor do salário mínimo. Mas, naturalmente, não são situações generalizadas.

Há muitas razões para a falta de respostas a ofertas de emprego, desde o evidente envelhecimento da população não compensado pela taxa de natalidade, à fraca mobilidade da população portuguesa, quer por razões afectivas quer por incapacidade económica para mudar de geografia quer, ainda, porque somos europeus e podemos emigrar para outros países europeus onde existem melhores oportunidades.

Por outro lado, apesar de dispormos de muito mais pessoal qualificado que há vinte ou trinta anos atrás, ainda é muito pouco se compararmos, por exemplo, com os tais países europeus de Leste que já nos ultrapassaram em termos de PIB, onde o acesso à educação e qualificação existe há muitos anos.

Contudo, parece ser consensual entre os especialistas de recursos humanos que existem outras razões mais profundas para as empresas não conseguirem recrutar novos empregados ou, mais grave, não conseguirem reter os que existem.

Apesar de sermos um país com um salário médio muito baixo, parecem não ser apenas o salário e prémios que seguram o empregado no após Covid-19.

Algo mudou com a pandemia e que leva os empregados a valorizar mais uma boa relação com os seus colegas e empregadores, sentir que têm um objectivo e um sentimento de pertença à empresa enquanto comunidade.

Claro que os rendimentos contam muito, mas não sem existir uma ideia de identidade partilhada entre todos.

Por outro lado, depois das experiências de teletrabalho durante a pandemia, cada vez mais valorizam aspectos como a autonomia e a flexibilidade no trabalho e a possibilidade de conciliar melhor o balanço ente família e emprego.

A situação pode ficar mais difícil de gerir se atendermos a um inquérito recente da consultora McKinsey em vários países (Austrália, Canadá, Singapura, Reino Unido e Estados Unidos) que demonstra que cerca de 40% dos empregados dizem que estão a ponderar despedir-se dos seus empregos nos próximos três a seis meses, apesar de se sentirem bem pagos.