Opinião

A sabedoria adolescente

16 set 2021 15:45

É bom sentir algum sossego, é muito importante podermos perspectivar uma vida sem interrupções drásticas

Aos poucos, as vidas escolares e profissionais retomam a sua actividade regular, quase normalizada agora que grande parte da população se encontra vacinada.

É bom sentir algum sossego, é muito importante podermos perpectivar uma vida sem interrupções drásticas, é muito bom não sentir o peso enorme da possibilidade de contagiarmos alguém com gravidade, é maravilhoso pensar que será possível olharmo-nos na rua e podermos ver os nossos sorrisos.

Tudo assim será, desde que todos continuemos a estar conscientes dos cuidados que devemos manter.

Os cépticos em relação à velocidade a que podem acontecer descobertas científicas, os inenarráveis negacionistas, os teóricos das conspirações, e os descrentes das nossas capacidades como país, perderam.

Portugal é um dos países mais vacinados do Mundo, liderando no que toca à percentagem de população com primeiras doses inoculadas e destacando-se na da vacinação completa.

Apenas 3% de nós não quiseram ser vacinados, mas, constituindo uma percentagem diminuta, poderão sempre contar com os que o foram para, com alguma sorte, não serem contaminados, restando desejar aos mais frágeis com quem se cruzem a mesma sorte, para que não se vejam contaminados por eles.

Somos afinal um povo cordato e inteligente, incluindo, necessariamente, as célebres excepções que servem para confirmar regras.

Despediu-se o país de Jorge Sampaio, com repetidas referências ao último texto onde abordou o sempre muito presente “dever de solidariedade”, retirando-lhe assim a possibilidade de opção, tal como deve ser.

E foi isso que vi e ouvi, nas últimas semanas, vindo de uma parte da população a quem geralmente não se liga importância, ou se dá grande crédito, no que respeita a coisas “sérias”: os adolescentes dos 12 aos 15.

Entrevistados, em diferentes lugares e momentos, a propósito da sua vacinação, emitiram opiniões muito claras, bem estruturadas, decididas (sobretudo quando alguns referiam a inicial resistência dos pais e a necessária persistência para a abalar), e solidárias!

Manifestando o conhecimento que tinham da forte improbabilidade de ficarem realmente doentes, não se excluíam, por isso, de colaborar para um bem comum, dando testemunho da responsabilidade que sentiam em relação àqueles com quem se cruzavam, nomeadamente professores, pais e avós.

E acrescentavam a grande vontade em voltar a uma vida o mais próxima possível com o que já fora, mas sem exigirem nada. Sem alarido, e sem dúvidas. Com uma tranquilidade baseada no raciocínio, adulta.

Pasmei, fiz alguma mea culpa, prometi a mim mesma perguntar-lhes a opinião sobre coisas sérias, muito mais vezes, e daqui lhes faço um enorme cumprimento pela lição que deram.

Mantiveram-se arredados das discussões dos adultos, conforme lhes mandam, mas ouvindo com atenção (é muito claro que ouviram, agora que se pronunciaram) e sabendo muito bem descortinar o bom senso e as opiniões bem fundamentadas, por entre os arrazoados mais ou menos histéricos e sem fundamento, para depois, com uma tranquilidade sábia do alto dos seus verdíssimos anos, emitirem a sua opinião e procederem de acordo com ela.

Olhai, e atentai, adultos, porque muitos foram “metidos num chinelo”.

Desejo-nos, a todos, a mesma sabedoria para ouvir, procurar entender, dar tempo, questionar com inteligência, aceitar, ter paciência, e ajudar.