Opinião

Alinhar os chacras na feira de Pataias

7 mar 2025 11:27

Fico desnorteado e perplexo com todos estes choques de realidade que o tempo presente nos tem dado e que, ao projetarmos o futuro, começamos a perceber que melhores ventos não chegarão

No dia em que Donald Trump assinou, na sala oval da Casa Branca, uma nova ordem executiva onde atribuiu mais poderes ao Departamento de Eficiência do Governo (DOGE), Elon Musk, o pseudolíder desse mesmo departamento (a chefe formal é Amy Glason), decidiu levar o seu filho de 3 anos às cavalitas para abrilhantar o momento. O nível de ridículo foi tanto que chegámos mesmo a assistir ao filho de Musk a mandar calar Trump e a dizer-lhe que ele não era o presidente.

Tudo isto a acontecer na mesma sala onde umas semanas mais tarde o presidente da Ucrânia foi recebido com desprezo e deselegância chegando mesmo a ser confrontado por um jornalista sobre o facto de não usar fato. À volta de Zelensky, os cães de fila de Trump, no alto das suas gravatas, soltaram umas gargalhadas fanfarronas e de superioridade como se o ridículo estivesse na camisola verde-tropa do presidente da Ucrânia e não no absurdo da pergunta realizada naquele momento. 

Estas duas situações, e outras mais ou menos estranhas, que têm acontecido no mundo levam-me sempre a acreditar (nem que seja por uns breves segundos) que não são reais e que são apenas obra da super Inteligência Artificial que anda por aí a confundir-nos diariamente. O problema é quando nos apercebemos que isto está mesmo acontecer e que estes episódios caricatos são mesmo verdadeiros e têm como principais intervenientes algumas das pessoas com mais poder no mundo. 

Fico desnorteado e perplexo com todos estes choques de realidade que o tempo presente nos tem dado e que, ao projetarmos o futuro, começamos a perceber que melhores ventos não chegarão. Na verdade os meus chacras entram em rotura e ficam todos desorientados obrigando-me repor o meu equilíbrio através de uma qualquer terapia de choque. 

Uma ida à feira de Pataias ao domingo podia ser a solução ideal e por isso aceitei de imediato o convite que um amigo me fez. Portugalidade, mundo e pureza em tão poucos metros quadrados de terreno. Cuecas, meias, queijos de todos os tipos e feitios, legumes da horta, camas e roupeiros, galinhas e patos entre outras tantas coisas mais. Ciganos e não-ciganos, indianos e marroquinos todos juntos a coabitar o mesmo espaço e onde tudo bate certo por ser tão simples. 

Sentei-me à mesa com o meu amigo e bem perto de um homem de barriga redonda que estava ali a grelhar carne desde as seis da manhã. Partilhámos um frango de churrasco e brindámos com cerveja e vinho carrasco. 

Por um momento olhei à minha volta, suspirei e sorri. Alinhei os chacras no mundo real e voltei a acreditar que afinal nem tudo está perdido.

Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990