Opinião
Artes Visuais | Meninos de Coro
A preencher por completo duas paredes estão três murais de GPena que são de suster a respiração e que sem dúvida nenhuma são a jóia da coroa desta belíssima iniciativa
Era quinta-feira e estava um dia cinzento. Tinha combinado com o Nuno e com a Matilde, uma pequena viagem de fim de dia ao Colégio das Artes em Coimbra, para ver a exposição Meninos de Coro de Francisca Carvalho, Gonçalo Pena e João Fonte Santa. A exposição estava distribuída por três salas amplas e de pé direito alto. Em cada uma das salas além das pinturas e desenhos expostas ora de um, ora de outro autor, sem nenhuma sequência aparente, estavam uns murais enormes que foram pintados nas paredes por ocasião da exposição. Pena e Carvalho ocuparam por completo as paredes que se predispuseram a pintar, Santa optou por fazer três pequenas pinturas, uma em cada sala da exposição.
Na primeira sala quando entramos está uma destas pequenas pinturas que nos dá o mote para a exposição, o riso. Toda a exposição me fez rir, exatamente como eu gosto. Os motivos pintados nas paredes, as pinturas e desenhos selecionados para estarem ali expostas, e até o cadáver esquisito que nos foi oferecido na folha de sala, têm um ar brincalhão. Até o facto de a Francisca ter trabalhado com apenas uma cor, e o João parece ter utilizado todas as cores a que teve acesso, é irónico.
A preencher por completo duas paredes estão três murais de GPena que são de suster a respiração e que sem dúvida nenhuma são a jóia da coroa desta belíssima iniciativa. Tivemos o prazer de falar com o pintor diante das pinturas e o que já era belo, em poucos minutos tornou-se sublime. Utilizou apenas três cores: preto, branco e um tom terracota em diferentes opacidades. Numa vemos um totem americano erguido, noutra um dragão asiático quase que em posição de ataque, mas a pintura que rouba o protagonismo todo da sala é uma encenação que parece oriunda dum vaso grego, onde dois soldados estão a caçar um grande javali. O Gonçalo mostrou-nos ainda, em tom off the record, três pequenas folhas onde esboçou os três murais e umas quantas pequenas pinturas que não foram incluídas na exposição.
Juntamo-nos à saída da sala para fumar um cigarro, depois de termos comido uns morangos e bebido um copo do delicioso vinho por eles partilhado. O ambiente de conversa leve e divertido deu azo a um jantar com os artistas onde éramos doze pessoas. Despedimo-nos e pusemo-nos a caminho, de regresso ao Serra, e acreditem ou não, a poucos quilómetros de chegar atravessou a estrada um enorme javali, que parecia tirado da pintura mural que apreciámos umas horas atrás. – Ainda que tivéssemos umas espadas gregas para ir atrás do animal, pensei e larguei a última mas maior gargalhada do dia.