Editorial
As árvores que nos unem
O propósito era falar sobre uma árvore, mas vamos falar de duas: uma real, outra idealizada
O propósito era falar sobre uma árvore, mas vamos falar de duas: uma real, outra idealizada. Uma não precisou de muita rega e transformou-se num ícone para os menores de 12 anos. Outra, exigiu estufa, rega, adubo, poda e enxerto, resistiu, e voltou a desabrochar graciosamente por estes dias, para miúdos e graúdos.
Vamos primeiro à árvore real. Está a um canto da Praça Rodrigues Lobo, em Leiria, e é a única, entre as várias distribuídas pelo espaço, que desperta a atenção dos mais novos. Na base, está até colocado um bloco de cimento que serve de ‘empurrão’ para as primeiras tentativas de escalamento.
Com frequência, vêem-se por ali crianças, que trepam descontraidamente pelo tronco, sobem aos ramos… balanceiam-se nos galhos e desafiam os amigos e amigas a fazer o mesmo. Apesar dos pequenos sustos que provocam a quem os observa, a sensação que transmitem, é que, por momentos, estão numa espécie de simbiose com o desafio, a aventura, o perigo, mas essencialmente com a árvore. E a maioria não irá esquecer que, na sua infância, trepou aquele tronco.
A outra árvore, é como se fosse uma árvore genealógica, ainda na primeira geração. Começou por atrair uma minoria de apreciadores de música alternativa, com concertos em cenário medieval, como o do Castelo de Leiria, e saltou para fora das muralhas, estendendo-se a outros pontos da cidade. Deixou de ser exclusivo para cerca de 800 pessoas por concerto e passou a ser atracção para uns bons milhares, da região, do País, do estrangeiro.
Falamos do Extramuralhas, um projecto da associação Fade In, que voltou a bater recordes de audiência neste último fim-de-semana. Pelas plateias dos palcos deste festival gótico, passaram também muitas crianças, algumas delas empoleiradas nos ombros dos pais, observando do alto, como se estivessem em cima do tronco da uma árvore. Da sua árvore. Uma simbiose distinta da observada na Praça Rodrigues Lobo mas igualmente impactante, pelas raízes que certamente deixará, caso os promotores desta iniciativa (em especial o Carlos Matos e a Célia Lopes) continuem, como se espera e deseja, a acreditar e a persistir nas suas convicções.