Opinião

As avós e a fuga do efémero

10 nov 2022 19:05

O tempo está mais para youtubers da treta e mestres da linguagem artística do que propriamente para grandes referências morais

Um dos privilégios de contactar com as gerações mais novas é o de colher, efectivamente, o estado de arte das suas convicções, também religiosas. Mais, de recolher um conjunto de dados que, mesmo sem terem sido tratados cientificamente, nos revelam algumas das fragilidades da passagem actual do testemunho da fé.

A grande maioria dos miúdos refere os avós, nomeadamente as avós, como especiais transmissores das verdades eternas. E aqui, e desde logo, se faz a manifestação de interesses no que a estas linhas diz respeito. Poder-se-ia escrever, santa presunção, sobre muitos outros assuntos mas, no agora, interessa escrever sobre estes que à amplitude da existência, e sua vivência, dizem respeito.

Logo porque, num determinado espaço público, começa a vir ao de cima a “anormalidade” da sensibilidade a este tipo de assuntos. Coisa estranha, porque observando todo um conjunto de práticas e rituais que à vida tocam, logo se percebe o quanto estão imiscuídos de pormenores que perpetuam ainda um determinado “respeito sagrado” pelas grandes dimensões da vida.

Voltando aos jovens, às suas convicções ou quase certezas. Começa a ser notória a falta de referências e de critérios para que aquelas possam ser identificadas e estes assumidos como referências para a vida. O tempo está mais para youtubers da treta e mestres da linguagem artística do que propriamente para grandes referências morais. Aliás, o tempo mais recente, e o de sempre, tem revelado que algumas dessas, afinal, têm pés de barro. E os pés de barro, desenganem-se os grandes promotores da discórdia e enxovalho, não é coisa do agora. Do agora, a mediatização e a facilidade, bem-vinda, como se tem conseguido pontuar alguns dos desvios inadmissíveis. Muitos outros haverá, muita desconsideração ainda estará para acontecer em praças públicas e recantos mais silenciosos e privados.

Aconteça o que acontecer uma coisa será sempre verdade. As referências sempre foram maiores. O desafio das vivências para superar a mediocridade. Os mestres da virtude, exemplares no que à mesma dizia respeito, mesmo que essa mesma a vida privada acabasse por fugir do apregoado. E as avós, sempre elas, sempre souberam perceber e transmitir, de geração em geração e independentemente do seu nível de escolaridade ou esclarecimento, que o tempo que nos é dado viver pode conviver, assim como a vida, com propostas banais. Contudo essas, nunca serão ou construirão mais que isso. Banalidade traz banalidade. Mediocridade traz mediocridade. Santidade trará santidade. E até a falta desta pode inspirar a mesma que falta. 

Já o Mestre dos mestres o terá dito, e alguém escreveu, que as lanternas não são para esconder. Não consta que tenha falado da qualidade ou tonalidade da luz. Tão só e apenas que há uma missão e um mundo a querer saber da Novidade que só as avós, ou as gentes como elas, sabem e acreditam ser importante continuar a transmitir. Com a sabedoria que a idade traz ao atravessar os fenómenos efémeros do tempo presente.
Haja avós! Aqui, agora e no futuro!