Opinião

As melhores escolas

28 fev 2019 00:00

É, portanto, de saudar o aparecimento de um projecto como o Escola Amiga das Crianças, saído da cabeça do psicólogo Eduardo Sá, que, qual pedrada no charco, surge a defender os jovens alunos da ditaduras das notas altas.

Como vem sendo habitual desde há alguns anos, o Ministério da Educação divulgou há duas semanas a média de cada escola nos exames nacionais, informação aproveitada pela generalidade dos jornais, incluindo este, para publicar os famosos rankings que colocam os estabelecimentos de ensino com as melhores médias nos lugares cimeiros e deixam a cauda da lista para quem tem piores resultados.

Ou seja, apesar de este tipo de seriação merecer cada vez mais contestação, a visibilidade e importância que se lhe dá leva a que na cabeça de muitas pessoas ecoe a ideia de que as melhores notas vêm das melhores escolas, com melhores professores e projectos educativos mais criteriosos.

Mesmo junto de muitos professores e directores de escolas, conhecedores de quão redutor é o critério das notas, a divulgação dos rankings paira como que um fantasma sobre as suas cabeças, não conseguindo sacudir a pressão de ver a ‘sua’ escola melhor ou pior colocada.

É, portanto, de saudar o aparecimento de um projecto como o Escola Amiga das Crianças, saído da cabeça do psicólogo Eduardo Sá, que, qual pedrada no charco, surge a defender os jovens alunos da ditaduras das notas altas, pelas quais, na lógica vigente, de tudo devem abdicar.

Há, assim, um novo aliado para aqueles que andam a pregar há anos contra o absurdo de resumir a avaliação do processo educativo ao resultado de umas quantas horas de exames, mas principalmente para todos os jovens estudantes que, sob pressão do egoísmo e vaidade adultos, têm visto a sua vivência da juventude amputada pelas pautas que dão acesso ao ensino superior.

Espera-se que este projecto, ao qual se juntou a Confederação Nacional das Associações de Pais, tenha a capacidade de trazer para discussão pública as prioridades que devem imperar nos percursos escolares, assunto tão mais importante quanto vamos percebendo que aquilo de que estamos mais carentes é de humanismo, civismo, espírito crítico e capacidade de estabelecer relações.

Do pragmatismo tipo tabela de Excel já estamos todos fartos e já percebemos onde nos leva, sobrando actualmente por essa sociedade fora ambição desmedida, calculismo e frieza de quem está focado no seu umbigo, algo que uma selecção por via da nota só poderá exacerbar.

É tempo de passarmos a quem vem atrás o que realmente é importante, deixando-os viver aquilo a que têm direito e proporcionando-lhes o necessário para o desenvolvimento pleno, onde o estudar para tentar ter boas notas é apenas uma parcela.

Com mais tempo e melhor espaço para brincar, outros estímulos para lá da nota alta, a vivência de novas experiências e a oportunidade para se descobrirem no contexto do grupo, teremos certamente outro tipo de adultos no futuro, não por acaso com características mais próximas daquelas que as grandes empresas já procuram há algum tempo.

Se teremos que conviver com robots, ao menos que não sejam de carne e osso…

*director