Editorial

Associativismo: um bem maior

18 mai 2023 10:22

Quando há projectos nobres e causas comunitárias em cima da mesa, o carácter solidário e o espírito associativo dos cidadãos ganham quase sempre uma outra dimensão

Pode não parecer mas o associativismo é um dos elementos fundamentais para a construção de uma democracia forte e plural. Ao envolverem-se de forma activa nas actividades das associações, os cidadãos tornam-se representantes de causas, dão voz às instituições, criam espaços de diálogo, de reflexão e intervenção, e reforçam a cidadania nas suas comunidades.

Por vezes, sem se darem conta, as pessoas que trabalham com as organizações sem fins lucrativos, não só contribuem para valorizar a participação cívica, mas aprendem também a liderar projectos, a gerir equipas, a trabalhar em conjunto e a solucionar problemas. Competências que lhes podem ser úteis na vida em geral e na carreira profissional em particular.

Num inquérito realizado às associações, colectividades e clubes de todo o País, promovido pelo Observatório do Associativismo Popular, em parceria com a Confederação das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto e duas universidades, ficou a saber-se que quase metade das instituições inquiridas (46,1%) têm mais associados do que há 20 anos.

Os resultados, divulgados em finais do ano passado, revelaram ainda que 76,2% dos actuais presidentes de direcção das colectividades já tinham estado envolvidos nas actividades das associações, antes de serem escolhidos para a liderança.

São dados animadores, que afastam, de alguma forma, o fantasma da crise de associativismo. Aliás, como pode confirmar-se no trabalho de abertura deste jornal, quando há projectos nobres e causas comunitárias em cima da mesa, o carácter solidário e o espírito associativo dos cidadãos ganham quase sempre uma outra dimensão.

Só assim se pode explicar como várias centenas de pessoas se voluntariam para, durante um mês, estarem à noite, e aos fins-de-semana, ao serviço das associações, na Praça da Gastronomia, na Feira de Leiria. Muitas, não têm qualquer experiência de restauração. Mas, independentemente da falta de tarimba no sector, têm uma coisa em comum. Sentem-se movidas por um bem maior: a sua colectividade, a sua comunidade.