Opinião

Budapest, 5 de dezembro de 1994

5 dez 2024 09:00

Os Estados Unidos e seus aliados limitaram-se a condenar a intervenção na Crimeia, a que vieram a acrescentar as tradicionais sanções económicas

Meu Caro Zé, Não te espantes com o título da conversa. É que, no dia em que os nossos leitores lerem o jornal, completar-se-ão 30 anos sobre a assinatura do esquecido Memorando de Budapest, assinado por L. Kravchuk pela Ucrânia, B. Yeltsin pela Federação Russa, J. Major pelo Reino Unido e W. Clinton pelos Estados Unidos da América.

Nele os 4 países dão as boas vindas à Ucrânia ao Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares, como um Estado sem armas nucleares, tendo em atenção o compromisso da Ucrânia em eliminar todas as armas nucleares do seu território dentro de um determinado espaço de tempo. Em contrapartida, os Estados signatários “1. Reafirmam o seu compromisso com a Ucrânia, em consonância com os princípio da Ata Final da CSCE, a respeitar a independência e a soberania e as atuais fronteiras da Ucrânia . 2. Reafirmam a sua obrigação de se absterem de usar, de ameaçar ou usar a força contra a integridade territorial ou a independência política da Ucrânia, e nenhuma das suas armas será alguma vez usada contra a Ucrânia exceto em autodefesa de acordo com a Carta das Nações Unidas. 4. Reafirmam o seu compromisso de prestar assistência à Ucrânia, como um Estado sem armas nucleares, se a Ucrânia vier a ser objeto de uma ameaça ou agressão em que sejam usadas armas nucleares.” O que aconteceu em 1 de março de 2014 na Crimeia?

Os Estados Unidos e seus aliados limitaram-se a condenar a intervenção na Crimeia, a que vieram a acrescentar as tradicionais sanções económicas. Quem era o presidente dos Estados Unidos na altura? B. Obama. Quem era o primeiro-ministro do Reino Unido? D. Cameron. Estes eram os dois responsáveis pela defesa da integridade da Ucrânia, dados os compromissos assumidos em Budapest perante uma evidente situação, impensável, de um putativo defensor da Ucrânia, V. Putin, passar a ser o seu agressor. É aceitável essa quase passividade?

Não deram sinais encorajadores para o que se desencadeou a partir daí, culminando na invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2024? Sim! Invasão da Ucrânia e não só do Donbass ou do Lugansk! Kiev foi bombardeada!!!

As cedências a Putin já eram visíveis no prefácio de Jon Snow ao “Diário Russo” de A. Politkovskaya (assassinada em 2007), que, na altura, se interrogava: “Para que temos embaixadores na Rússia? Como é que os nossos líderes ignoraram tão resolutamente o que sabiam que Putin estava a planear?”. E, como veremos na próxima conversa, continuaram… Até sempre