Editorial

Cidadania Flácida

19 nov 2020 13:23

A expressão é de Valter Hugo Mãe, um dos mais populares escritores portugueses contemporâneos, que entrevistamos nesta edição.

A expressão é de Valter Hugo Mãe, um dos mais populares escritores portugueses contemporâneos, que entrevistamos nesta edição.

“Vivíamos numa cidadania flácida, sem sobressaltos, onde todos refilavam de barriga cheia”, diz ele, descrente de que venhamos a tirar grandes lições pedagógicas da pandemia que mudou as nossas vidas. Mas do que falamos afinal quando falamos de cidadania?

O dicionário online da Porto Editora define-a como a “condição de um indivíduo enquanto membro de um Estado ou de uma comunidade”, detentor de direitos e obrigações perante essa mesma entidade.

É exercida através da participação na vida pública e política de uma comunidade.

Reconhecendo-se a importância de promover e incentivar a participação de cada indivíduo na comunidade, o ensino básico inclui a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, a tal que gerou polémica em Setembro, com petições contra e a favor, depois de conhecida uma decisão do Ministério da Educação a anular a passagem de ano administrativa de dois irmãos que não frequentaram as aulas à disciplina e teriam chumbado por faltas.

As matérias leccionadas compreendem Direitos Humanos (civis e políticos, económicos, sociais e culturais, e de solidariedade), desenvolvimento sustentável, educação, ambiente, saúde, interculturalidade, media, igualdade de género e sexualidade, entre outros.

Com esta disciplina pretende-se “preparar os alunos para a vida, para serem cidadãos democráticos, participativos e humanistas, numa época de diversidade social e cultural crescente, no sentido de promover a tolerância e a não discriminação, bem como de suprimir os radicalismos violentos”.

No fundo, para os preparar para pensarem pela própria cabeça, em vez de ‘seguirem a manada’, capacidade cada vez mais importante nos dias de hoje.

Voltando à participação na vida da comunidade, refira-se o bom exemplo dos moradores da União de Freguesias de Boa Vista e Santa Eufémia, que em sete edições do Orçamento Participativo da Câmara de Leiria conseguiram ver aprovadas dez propostas, que representam investimentos superiores a meio milhão de euros neste território.

O segredo está na mobilização das pessoas em prol da sua terra, mas também no envolvimento dos órgãos autárquicos da freguesia no processo, não só na divulgação da iniciativa e das propostas, mas também no apelo à participação da população, através da apresentação de ideias e da votação, aponta Mário Rodrigues, presidente da UF.

Um exemplo a seguir!