Opinião
Cinema | A lição do professor Keating
Este filme é uma espécie de carta de amor à escola, ao poder transformador da educação e à descoberta da própria voz dentro de um sistema
Parece um chavão, mas vou dizê-lo na mesma: Setembro é mês de recomeços, e não há volta a dar a isto. Se não andarmos na escola, será um recomeço da rotina laboral; se andarmos, é altura de abrir cadernos novos; sentir o cheiro de livros por estrear e de se sentar nas salas de aula à procura de aprender ou de ensinar.
Talvez por isso O Clube dos Poetas Mortos (1989), de Peter Weir, seja um filme tão apropriado para rever nesta altura do ano (isto, porque acredito que meio mundo já viu e o outro meio sabe que existe, pelo menos). É que, no fundo, este filme é uma espécie de carta de amor à escola, ao poder transformador da educação e à descoberta da própria voz dentro de um sistema que insiste em nos padronizar.
Este ano, pretendo mostrá-lo aos meus alunos de cinema para que o possamos ver e discutir; não só porque é um clássico incontornável, mas também porque o acho bastante pertinente, actualmente. Mais ainda, quando parece que estamos a assistir, em primeira fila, a um desvanecer da Educação pública em Portugal.
Voltando ao filme.
Passado na década de 1950, num internato masculino de elite nos Estados Unidos, o filme coloca em confronto duas forças: a disciplina rígida, assente na obediência cega e na tradição; e a inspiração libertadora trazida pelo professor John Keating (Robin Williams). O método de Keating - que incentiva os alunos a pensar por si mesmos, a questionar a autoridade e a procurar poesia no quotidiano - funciona como uma lufada de ar fresco numa instituição sufocante. O célebre “Carpe Diem” não é apenas um slogan motivacional, mas um apelo urgente à autonomia e à coragem de viver.
Cinematograficamente, Peter Weir constrói um filme clássico mas cheio de subtileza. A fotografia de John Seale, com tons outonais e quentes, reforça o ambiente académico tradicional, ao mesmo tempo que a câmara se aproxima dos rostos dos jovens para revelar as suas dúvidas ou entusiasmo. A realização privilegia o espaço da sala de aula como lugar de revelação, onde a palavra se torna uma arma de libertação.
Rever O Clube dos Poetas Mortos, hoje, é mais do que um exercício de nostalgia. É uma oportunidade para refletirmos sobre a importância da escola como um direito, um espaço de emancipação e sobre o risco de a tratarmos apenas como um serviço ou uma despesa. Que este setembro nos inspire a valorizar o direito à educação e a lutar por ele. Porque, sem essa base, nenhum “Carpe Diem” é possível.