Opinião

Cinema | All I want for Christmas... iiiiiiiissss...

9 dez 2021 17:52

Serão estas plataformas de streaming um ponto de não-retorno para a relação entre cinema e espectador?

Nos inícios do mês de Novembro, há sempre uma manhã em que somos surpreendidos com um certo acontecimento na nossa rotina habitual de deslocação para o trabalho, que nos faz parar e começar a fazer contas aos dias: deparamo-nos com o aparato da instalação de estruturas e luzes pelas ruas das baixas das cidades. Aí vem ele, o Natal. As prendas, o shopping, aquela tia chata lá em casa, a Mariah Carey e o Sozinho em Casa. Este filme é um prato obrigatório no cardápio de filmes de Natal que são exibidos na TV. Quem nunca viu o Sozinho em Casa no Natal? Ou melhor, quem não vê o filme todos os natais?

Além de filmes que têm a época natalícia como pano fundo, esta é uma altura em que as estações de televisão costumam apostar em estreias ou filmes que reúnam a família em frente ao pequeno (cada vez maior) ecrã. Bate o primeiro de Dezembro, e as estações de televisão anunciam a programação especial de Natal. Os miúdos fazem a contagem decrescente para o início das férias de Natal, para começar as maratonas de filmes no canal aberto. Fazem, ou faziam? Os anos 2010 foram marcados pela massificação das plataformas de streaming, que se tornaram o principal meio de consumo de séries e filmes. O que começou por ser um sonho tornado realidade para o espectador — um catálogo virtual de acesso instantâneo aos seus conteúdos preferidos — rapidamente passou a ser o maior pesadelo para os tradicionais exibidores, e um feitiço virado contra o feiticeiro mesmo para o espectador.

O nascimento de novas plataformas começou uma guerra pela exclusividade de conteúdos, tão levada ao extremo que já há plataformas a comprar direitos de filmes ainda em fase de pré-produção, impedindo logo a sua exibição em sala. E aqui, os festivais de cinema têm sido, por tabela, uma especial vítima desta guerra, pois vêem a sua programação limitada pela guerra entre plataformas, com as distribuidoras e as produtoras como suas cúmplices.

Em consequência, cada vez mais resta ao espectador fazer subscrições em novas plataformas para ter acesso aos conteúdos que quer. E a disponibilização de um catálogo ilimitado de conteúdos — cada vez com menos qualidade e mais quantidade — só vem acentuar o crescente desinteresse do espectador pelo cinema. Seja ele em sala, ou mesmo na televisão.

Serão estas plataformas de streaming um ponto de não-retorno para a relação entre cinema e espectador? Vamos ver...