Opinião

Cinema | Arte e lazer

7 mai 2022 20:00

Além do contexto de produção e exibição do filme, o contexto de visionamento é também um factor essencial para a apreciação

Recentemente assisti a uma conversa onde se discutiu o cinema como uma forma de arte, com o propósito de actuar como um catalisador para uma reflexão posterior — em contraposição com o cinema como uma forma de lazer, com o propósito de entreter e passar tempo.

Parece que, tendencialmente e à partida, existe apenas uma separação de ambos os propósitos destas formas de cinema, colocando tanto os seus criadores como os seus consumidores em caixas sólidas, distintas e opostas.

Num segundo momento do debate, falou-se de filmes e realizadores que conseguem posicionar-se num sweet spot do cruzamento entre as duas formas, amenizando a separação e a valorização de uma sobre a outra.

Uns dias depois, dei por mim a reflectir sobre uma outra hipótese de conjugar estes dois propósitos, aceitando a sua separação — e é sobre isso que hoje vos quero falar.

Há cerca de 10 anos fui mordido pelo bichinho do cinema, pois pela primeira vez experienciei um impacto psicológico por ver um filme — e percebi que esse impacto nunca me teria atingido se tivesse lido, ouvido ou falado sobre esse mesmo assunto. O conjunto de várias linguagens ou artes no todo do filme fez-me ter uma leitura que não poderia ter através de nenhuma outra forma de expressão ou de arte.

De facto, o cinema foi considerado uma arte, a sétima — mas a primeira que conjugava todas as outras artes a ele anteriores. Até então, todas as outras valiam por si só, e o cinema surge assim como a arte que nasce pela conjugação, diálogo e equilíbrio de todas as outras.

Quando pela primeira vez percebi isso, estava nascido o fascínio. A partir daí, foi esse o barómetro que usei muitas vezes para apreciar um filme. Ao mesmo tempo, adorava seguir as aventuras de Jack Sparrow, rir-me das superficialidades da Regina George ou navegar pelos imaginários de Hogwarts — sem que estivesse obrigatoriamente a avaliar esses filmes. Aí percebi que a avaliação destes filmes continuava a acontecer, mas não segundo os critérios anteriormente validados — o critério agora era a minha disposição, o momento em que os vejo, com quem os partilho, mesmo que já nem fosse a primeira vez que os via.

Além do contexto de produção e exibição do filme, o contexto de visionamento é também um factor essencial para a apreciação de um filme.

Às vezes apetece-me explorar a história do cinema, outras vezes o movimento artístico de um autor — mas bolas: viva as comédias românticas, os filmes de série B mal-amanhados, os enredos previsíveis ou a dimensão astronómica do IMAX que te faz colar à cadeira de olhos arregalados.

Às vezes precisamos de uma pausa. E na minha próxima pausa, prometo que vou ver, pela primeira vez, um filme em IMAX.