Opinião

Cinema | Um Paraíso de Cinema

2 mai 2019 00:00

"É que sabem: não somos só bons em futebol, e pode haver um Cinema Paraíso português perdido por aí... quem sabe?"

Cinema Paraíso é sobre o poder dos sonhos. No mundo atual, com toda esta crise que estamos a atravessar tanto na política como na sociedade, o filme recorda-nos que podemos, e devemos, continuar a sonhar». Salvatore Cascio, o Totò.

Este ano, o mundo inteiro comemora os 30 anos do Cinema Paraíso.

São sessões especiais nas salas de cinema de todo o País. Esta semana volta a dar na RTP2. Enfim. O Cinema Paraíso está em todo o lado e com ele leva uma legião gigantesca de fiéis seguidores.

Toda a gente adora o filme. Nós, no Leiria Film Fest também sabíamos disso, tanto que, quando iniciámos as nossas sessões de cinema clássico no m|i|mo no ano passado, esse foi logo o primeiro e tivemos lotação esgotada (coisa que nunca mais se repetiu, posso acrescentar).

O filme é, realmente, um clássico. E daqueles que prevalece nos corações de gerações e gerações durante décadas. Ganhou um Óscar, um Globo de Ouro e o Grande Prémio do Júri em Cannes.

No entanto, quando foi lançado ao público, em 1988, Giuseppe Tornatore – o realizador – não imaginou que fosse um fracasso de bilheteira no seu país natal: Itália. O filme era demasiado longo e os italianos não pareciam gostar dele. Depois de se lhe ter sido retirado mais de meia hora, Cinema Paraíso lança-se a nível internacional e foi um êxito instantâneo. Toda esta história – desconhecida por grande parte do público – leva-me a pensar no trabalho de muitos realizadores portugueses. Filmes sem apoios, com poucas receitas de bilheteira, pouco público...

Estamos na era dos super-heróis americanos e, quando o filme é português, tem de ser uma comédia daquelas que é uma mistura de Malucos do Riso, Batanetes e telenovela da TVI. Se for assim, as salas de cinema estão cheias. Se for o contrário, bem, escusado será dizer que as salas estão vazias sendo, posteriormente, deslocados para horários de pouca afluência, afunilando, ainda mais, o número de espetadores que pudessem vir a ter.

Eu sei que nesta coluna mensal eu deveria falar mais de filmes, ao estilo intelectual, mas acabo sempre por falar da indústria. Mas sinto que estas reflexões também são importantes.

Deixo, então, a questão:
Nem todos os filmes portugueses são obras primas. Há dos secantes, dos vazios, dos realmente incompreensíveis. Mas, também, há dos bons. Vamos ser como os espetadores italianos que viram o Cinema Paraíso, em 1988, e que quase fizeram o realizador desistir de o lançar para o estrangeiro? Ou vamos apoiar o que se faz cá?

*Cineasta
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990