Opinião
Colipo e Leiria
O que é feito dos espólios de Colipo? Dispersaramnos ou voltaram a enterrá-los.
Há poucos sítios arqueológicos mais maltratados do que o de Colipo, no cabeço da actual Quinta de São Sebastião do Freixo, freguesia de Golpilheira, concelho da Batalha. Houve aí escavações entre 1963 e 2005. As notícias de que dispomos reportam-no para uma «cidade romana» mas, isto, é o estereótipo dos historiadores que se prezam em enaltecer a romanização da Lusitânia com uma sementeira de urbes e cidades imperiais implantadas logo após a conquista.
Lembro que, segundo Estrabão (historiador greco-romano), «os Lusitanos foram o povo que durante mais tempo resistiu a Roma»: 200 anos foi quanto durou a resistência, tendo os lusitanos e os galegos, segundo o escritor romano Silius Itálicus (século I a. C), constituído o grosso das tropas cartaginesas que participaram na 2ª Guerra Púnica (de Cartago contra Roma, 218-211 a.C) sob o comando de Aníbal. Esta secular resistência, humilhante para Roma, foi vingada com uma tenaz operação de «apagamento da memória», operação essa em que ainda participam os actuais historiadores.
O que é feito dos espólios de Colipo? Dispersaramnos ou voltaram a enterrá-los. O Museu da Comunidade Concelhia da Batalha preserva a estátua dum magistrado romano, o que sugere que o local foi a sede dum tribunal ou instituição equivalente, assim como uns capitéis de colunas e algumas moedas com caracteres fenícios. E pouco mais. Para uma «urbe romana» é pouco.
É sabido que os arqueólogos procuram provas que venham a confirmar as teorias sobre os «romanos»; se encontram elementos contraditórios, anteriores, voltam a enterrar tudo e abandonam o sítio. Foi o que se passou com tanta escavação? Em prejuízo do Património Cultural Imaterial. Interessa aqui o topónimo «Colipo», já referido pelo geógrafo romano Plínio (século. I d.C.) e, segundo algumas notícias, já era povoado 300 anos antes da romanização.
*Sociólogo
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